Velejar nas Dunas
Para documentar as montanhas de areia, nosso fotógrafo sobrevoa os desertos mais rigorosos do planeta
por George SteinmetzFonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL
Rub al Khali • Arábia Saudita Dunas jovens se desenham
como caligrafia no Rub al Khali, Quarto Vazio em árabe. Avultando-se
acima delas, uma duna-estrela, devido a seu tamanho, provavelmente vai
passar décadas no mesmo local
Foi em 1998, durante uma expedição ao Saara, que tive minha primeira
lição sobre a física das dunas de areia. Interessado em fazer fotos de
altitude nessa região remota, aprendi a voar em um paraglider
motorizado, um dos veículos aéreos mais leves e lentos que existem. Ele
pesa pouco menos de 45 quilos e alcança a velocidade máxima de 50
quilômetros por hora. E não tem rodas.
Acabei aperfeiçoando a habilidade nova de voar (e pousar) com o paraglider. Mas não me ocorreu que também teria de aprender outra coisa para sobreviver no Saara: a capacidade de ler as dunas de areia. Assim como um marinheiro fica de olho na espuma na crista das ondas para não ser surpreendido por uma súbita ventania, tive de aprender a sondar as invisíveis e perigosas correntes de ar que criavam os montes de areia.
O deserto do Saara está repleto de intermináveis fileiras de dunas conhecidas como barcanas. Esse termo significa “duna em forma de crescente” nas línguas turcomanas do Leste Europeu e da Ásia Central e Setentrional. As barcanas despertaram minha curiosidade quando li um livro de Ralph Bagnold, um oficial do Exército britânico, que foi um dos primeiros a cruzar o deserto líbio em veículos motorizados, nas décadas de 1920 e 30. Bagnold descreve tais dunas como estruturas dotadas de vida, que se deslocam, se multiplicam, preservam o formato e se adaptam ao ambiente. Assim me inspirei a tentar fotografá-las do céu.
Viajei à África com o francês Alain Arnoux, um campeão de paragliding motorizado, que me treinaria para voar com o mínimo de segurança. Para alcançar as barcanas, passamos quatro dias sacolejando em um veículo 4x4, partindo de Ndjamena, a capital do Chade, rumo ao norte. A areia das dunas também havia viajado, migrando para oeste desde o Egito e o Sudão. Nos orientamos por um velho mapa francês que indicava as formações por sinais ortográficos de fechamento de parênteses, todos virados para o vento.
Eu não fazia ideia das dificuldades que nos esperavam. Tampouco me dava conta do grau de atração das dunas. Fiquei tão fascinado que desenvolvi um projeto de 15 anos para fotografar os desertos mais rigorosos do planeta.
Quando chegamos à depressão Mourdi, meu companheiro de viagem, gritando para ser entendido em meio à ventania, disse que nem mesmo ele conseguiria voar naquelas condições. Por isso, seguimos adiante, até o centro de uma bacia rochosa, onde havia uma barcana de 15 metros de altura, que nos daria abrigo para a noite.
Acordamos antes de amanhecer. Na crista da duna, o vento se atenuara e agora era uma brisa. Decolei assim que nasceu o sol, descendo pela vertente da duna a barlavento (a direção de onde sopra o vento). Quando cheguei à altitude de 150 metros, me senti como se fosse um inseto sobrevoando uma enorme esteira em uma fábrica de croissants. As barcanas se estendiam até o horizonte, em formas que se interligavam, se apartavam e davam origem a outras.
Acabei aperfeiçoando a habilidade nova de voar (e pousar) com o paraglider. Mas não me ocorreu que também teria de aprender outra coisa para sobreviver no Saara: a capacidade de ler as dunas de areia. Assim como um marinheiro fica de olho na espuma na crista das ondas para não ser surpreendido por uma súbita ventania, tive de aprender a sondar as invisíveis e perigosas correntes de ar que criavam os montes de areia.
O deserto do Saara está repleto de intermináveis fileiras de dunas conhecidas como barcanas. Esse termo significa “duna em forma de crescente” nas línguas turcomanas do Leste Europeu e da Ásia Central e Setentrional. As barcanas despertaram minha curiosidade quando li um livro de Ralph Bagnold, um oficial do Exército britânico, que foi um dos primeiros a cruzar o deserto líbio em veículos motorizados, nas décadas de 1920 e 30. Bagnold descreve tais dunas como estruturas dotadas de vida, que se deslocam, se multiplicam, preservam o formato e se adaptam ao ambiente. Assim me inspirei a tentar fotografá-las do céu.
Viajei à África com o francês Alain Arnoux, um campeão de paragliding motorizado, que me treinaria para voar com o mínimo de segurança. Para alcançar as barcanas, passamos quatro dias sacolejando em um veículo 4x4, partindo de Ndjamena, a capital do Chade, rumo ao norte. A areia das dunas também havia viajado, migrando para oeste desde o Egito e o Sudão. Nos orientamos por um velho mapa francês que indicava as formações por sinais ortográficos de fechamento de parênteses, todos virados para o vento.
Eu não fazia ideia das dificuldades que nos esperavam. Tampouco me dava conta do grau de atração das dunas. Fiquei tão fascinado que desenvolvi um projeto de 15 anos para fotografar os desertos mais rigorosos do planeta.
Quando chegamos à depressão Mourdi, meu companheiro de viagem, gritando para ser entendido em meio à ventania, disse que nem mesmo ele conseguiria voar naquelas condições. Por isso, seguimos adiante, até o centro de uma bacia rochosa, onde havia uma barcana de 15 metros de altura, que nos daria abrigo para a noite.
Acordamos antes de amanhecer. Na crista da duna, o vento se atenuara e agora era uma brisa. Decolei assim que nasceu o sol, descendo pela vertente da duna a barlavento (a direção de onde sopra o vento). Quando cheguei à altitude de 150 metros, me senti como se fosse um inseto sobrevoando uma enorme esteira em uma fábrica de croissants. As barcanas se estendiam até o horizonte, em formas que se interligavam, se apartavam e davam origem a outras.
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