sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ilhas da Linha meridionais: um novo mundo

Um paraíso subaquático no Oceano Pacífico, está sendo protegido graças ao projeto Pristine Seas, da National Geographic Society

Edição 175 - NATIONAL GEOGRAFIC BRASIL/Outubro de 2014 02/09/2014
por Kennedy Warne

NG - Um paraíso subaquático, que inclui as águas ao redor da remota Ilha Caroline, no Oceano Pacífico 

Um paraíso subaquático, que inclui as águas ao redor da remota Ilha Caroline, no Oceano Pacífico, está sendo protegido graças ao projeto Pristine Seas, da National Geographic Society.
“Se um extraterrestre visitasse a terra e quisesse conhecer um recife de corais, eu mostraria a ele o atol de milênio”, diz Enric Sala, explorador-residente da National Geographic Society.

E o que esse ET veria faz parte do que talvez seja o arquipélago mais bem preservado do Oceano Pacífico: as cinco ilhas conhecidas como Caroline (ou Milênio), Flint, Vostok, Malden e Starbuck – que juntas formam as Ilhas da Linha meridionais. As águas ao redor desses pontos, situados de 2 400 a 3 400 quilômetros ao sul do Havaí, estão entre as derradeiras intocadas em um oceano explorado à exaustão.

Agora essa área vai virar uma reserva protegida. Finalmente. Há pouco tempo, o governo de Kiribati estabeleceu, em torno de todas as ilhas, uma zona de 12 milhas náuticas na qual não se pode mais pescar, como parte de um esforço liderado pelo ecologista espanhol Enric Sala, no âmbito do projeto Pristine Seas [Mares Intocados], da National Geographic Society, que visa a documentar e preservar o que resta dos ambientes marinhos menos alterados do planeta. A criação de uma reserva nas Ilhas da Linha meridionais é algo que Sala busca desde que conduziu uma expedição científica na região em 2009. “Essas ilhas nos ajudam a entender perfeitamente o que significa o termo ‘intacto’. Desde a densidade de corais, biomassa de peixes, quantidade de superpredadores, biodiversidade, os dados ecológicos são impressionantes.”

Durante a expedição de 2009, os mergulhadores passaram mais de mil horas submersos ao largo das cinco ilhas. E ficaram assombrados com o que viram. Em alguns recifes os corais cobriam 90% do leito oceânico – bem mais do que os 5% a 10% encontrados no Caribe.

NG - Corais das Ilhas da Linha 

Os corais do mundo estão morrendo pelo branqueamento e por doenças, mas os das Ilhas da Linha (foto) seguem saudáveis. Para os cientistas, a chave está nos ecossistemas ilesos, nos quais todas as espécies nativas – incluindo as que se alimentam de plâncton – têm seu papel - Foto: Brian Skerry

Os cientistas também se surpreenderam com o excelente estado de saúde das comunidades coralinas. Por todo o Oceano Pacífico, os picos de temperatura da água, causados por eventos climáticos associados ao El Niño, provocaram a extinção de imensas extensões de corais. No entanto, os recifes nas Ilhas da Linha meridionais não parecem ter sido prejudicados. “Sabemos que essa região foi bastante afetada pelo aquecimento do mar e esperávamos constatar a morte de corais, mas vimos que os recifes estavam ilesos – e em excelentes condições”, comenta Sala.

Os corais tendem a mostrar maior capacidade de recuperação onde outros elementos do ecossistema marinho também estão prosperando. Em certas partes dos corais de Milênio, a densidade de mexilhões gigantes chega a 40 indivíduos por metro quadrado – uma abundância dificilmente vista desses animais tão requisitados por sua carne e suas conchas. “Os mexilhões gigantes foram dizimados na maioria das lagunas de atóis ao redor do mundo. Mas em Milênio os recifes estão cobertos deles”, diz Sala.

A espécie mais comum é a Tridacna maxima, conhecida por ali por um nome que soa contraditório, “mexilhão-gigante-pequeno”. São pouco maiores do que uma bola de rúgbi, mas que parecem anões ao lado dos moluscos bivalves, a Tridacna gigas, que chega a ter 1,3 metro de comprimento. À primeira vista, os pequenos gigantes parecem que usam batom azul ou verde. Na realidade, a cor vem de células de pigmento no interior de seus mantos carnosos, que se projetam como lábios quando a concha se abre.

Esses animais que se alimentam por filtragem funcionam como purificadores da água. Os microbiólogos que participaram da expedição mediram a concentração de bactérias em todos os atóis. Em Milênio, eles constataram o menor teor de bactérias. Estas são responsáveis por doenças em corais, peixes, mariscos e crustáceos. Um teor reduzido de bactérias na água do mar é a marca de um ecossistema saudável.

 

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