terça-feira, 9 de dezembro de 2014

 
06/12/2014 21h01 - Atualizado em 06/12/2014 21h39

Pedreiro faz casa 'ecologicamente correta' com garrafas pet em MG

Mais de 10 mil garrafas foram usadas na estrutura do imóvel em Extrema.
Usando materiais doados, custo da construção ficou menos de R$ 15 mil.

Do G1 Sul de Minas

Um pedreiro de Extrema (MG) resolveu unir criatividade, economia e preservação ambiental na construção da casa própria e usou mais de 10 mil garrafas pet na estrutura do imóvel. O resultado é uma casa arejada, resistente e ecologicamente correta. Usando materiais doados e reutilizando outros, o custo do imóvel ficou em menos de R$ 15 mil. Especialistas acreditam que o projeto, seguro e sustentável, é uma boa solução para a preservação do meio ambiente.
Ao olharmos o imóvel de longe, a estrutura aparenta ser uma casa convencional, mas ao nos aproximarmos, no lugar de tijolos o que se vê são círculos coloridos das garrafas que geralmente usamos para armazenar refrigerantes. O pedreiro Ed Mauro Aparecido Morbidelli conta que teve a ajuda do pai para investir no projeto. "Noventa por cento das garrafas foi meu pai que pegou nas coletas seletivas, passava antes do caminhão e pegava as garrafas, e amigos que iam guardando nas casas.”

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O pedreiro garante que as paredes são tão firmes quanto as feitas com tijolos e que a casa resiste às ações do tempo. "Isso aqui é um tijolo, quase 8 kg cada garrafa cheia", explica.
Pedreiro de Extrema usou garrafas pet em estrutura de casa sustentável (Foto: Edson de Oliveira / EPTV)Pedreiro de Extrema usou garrafas pet em estrutura de casa sustentável (Foto: Edson de Oliveira / EPTV)
Além das garrafas cheias de terra, ele usou cimento e areia. Com a ajuda de amigos, Morbidelli construiu a casa em um terreno na zona rural da cidade. Foram dois anos de obras e para completar ainda falta o acabamento, que ele vai executando aos poucos. O pedreiro nunca tinha feito nada assim e conseguiu aprender sobre a técnica na internet.
Dentro da casa a temperatura é agradável. Os cômodos recebem claridade pelas garrafas plásticas colocadas no telhado. A decoração revela outro talento do pedreiro, de reaproveitar peças que seriam descartadas. Com cacos de azulejo, ele montou mosaicos no banheiro, e com madeiras que iriam para o lixo, fez uma cadeira. A pia da cozinha tem adornos com fundos de garrafa de vidro e até batentes e janelas foram reformados, o que deixou a construção da casa ainda mais barata. "Ficou cerca de uns R$ 12 mil a casa, mas reaproveitando janela, porta, tudo de demolição que foi doado", calcula.
Materiais reutilizados são aplicados na decoração da casa (Foto: Edson de Oliveira / EPTV)Materiais reutilizados são aplicados na decoração
da casa (Foto: Edson de Oliveira / EPTV)
Quando Morbidelli começou a construir com garrafas pet, surgiram outras ideias para que a casa fosse ecologicamente correta. A caixa d'água, por exemplo, é toda abastecida com água de chuva e três caixas recebem água direto da calha. O portão da casa e o arrimo na base são feitos de pneus. Ele ainda plantou no terreno 72 mudas de árvores nativas e frutíferas.
Agora, Morbidelli espera que o projeto dele possa ajudar outras pessoas. "Tem tanta gente que às vezes tem um pedaço de terreno, mas não tem dinheiro pra construir e está pagando aluguel, então você pode fazer algo com baixo custo e que fica bom, que dá pra você morar e tem a preservação [do meio ambiente]. Então [é juntar] o útil ao agradável."
Viável e sustentável
Segundo a arquiteta Ângela Marques, especialista em utilização de materiais alternativos em construções, o uso de garrafas pet em construção se iniciou na Índia e na América Latina, em 2000, e em 2011 ela foi utilizada na Nigéria pra resolver duas questões: o déficit de moradias e o descarte de garrafas pet nas ruas sem um uso adequado.
"A resistência deste material é muito maior do que a do tijolo convencional, isso foi comprovado em pesquisas, e também um ponto importante é a característica termoacústica que a parede de garrafa-tijolo tem. A condutibilidade do calor é inferior ao do tijolo convencional, isso garante que dentro de uma casa de garrafa pet você tem uma temperatura que chega a 18º num país tropical. Isso é super confortável", afirma.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Para Longe do Éden: Bênção. Maldição. Cobiça

A travessia da Terra Santa

por Paul Salopek
     
Jerusalém não é uma cidade de guerra. Avner Goren teima nessa questão.
Caminhamos no Levante sob um céu matinal sem nuvens, seguindo um rio de esgoto a céu aberto que vem espumejando de Jerusalém Oriental – 45 000 metros cúbicos por dia, Goren me informa – uma descarga imunda que percorre 36 quilômetros até o Mar Morto. Acompanhamos o esgoto como uma forma de peregrinação. É como pensa Goren, um dos mais renomados arqueólogos de Israel. “Houve 700 conflitos aqui desde que Jerusalém foi fundada”, ele diz, olhando por cima do ombro, enquanto abre caminho em meio aos turistas religiosos da Cidade Velha. Mas também existiram longos períodos sem guerra. E as pessoas viviam juntas em paz.
Somos três.
Goren: jerosolimita nativo, um intelectual de cabelos revoltos e olhos azul-água de sonhador, judeu. Bassam Almohor: um amigo palestino, fotógrafo, incansável guia de caminhada vindo da Cisjordânia. Junto-me a eles depois de andar por 381 dias desde que saí da África, do berço biológico da humanidade no Grande Vale Rift, na Etiópia, e entrei na região do advento da agricultura, da invenção da linguagem escrita e da origem de deidades supremas, o Crescente Fértil. Minha lenta jornada é parte de um projeto intitulado Para Longe do Éden e tem por objetivo percorrer, passo a passo, os caminhos dos ancestrais da Idade da Pedra que descobriram nosso mundo. Pretendo andar por sete anos até o último canto do planeta aonde nossa espécie chegou: o extremo meridional da América do Sul. Quando descrevo minha trajetória para Goren, ele replica: “Sim. Você vem do sul, como Abraão”.
Nossa caminhada à margem do esgoto – grande ideia de Goren – é tão fascinante quanto excêntrica: ele quer limpar a sujeira (a Alemanha prometeu recursos para uma estação de tratamento) e criar quilômetros de trilhas “verdes” por um lendário vale onde 5 mil anos atrás Jerusalém foi fundada. Essas trilhas partiriam do cerne espiritual da Cidade Velha e passariam pelo deserto bíblico, onde a poluição flui densa sob o sol amarelo. Como o efluente atravessa a barreira que separa Israel da Cisjordânia, essa rota poria em contato as vidas de palestinos e israelenses. O rio purificado, coletando em sua árida bacia o sagrado e o profano, ajudaria a forjar a paz entre os dois arqui-inimigos do Oriente Médio. “Essa peregrinação será diferente em muitos níveis”, diz Goren. “Ela segue um importante corredor cultural e religioso, é verdade. Mas também liga palestinos e israelenses de um modo muito concreto. Estamos falando de água limpa.”
Começamos entre os santuários históricos das três fés abraâmicas: o Domo da Rocha, as torres da Igreja do Santo Sepulcro e os imponentes blocos do Muro das Lamentações, eriçado de orações em papel. Percorremos, suando em bicas, ruas sem sombras em bairros palestinos. Seguimos o esgoto através de morros estéreis, onde ele contorna um mosteiro do século 6 como um fosso sinistro. O efluente cruza um campo de tiro do Exército. Em desfiladeiros abafados, respiramos pela boca para suportar o fedor. Dois dias depois chegamos ao término: o mar salgado entre Israel e a Jordânia. Mar Morto.
“O monoteísmo nasceu aqui”, Goren me diz no alto de um penhasco defronte à faixa de água cor de ferro. “Assim que inventamos a agricultura, não precisamos mais de ninfas em cada fonte. Os antigos deuses da natureza selvagem tornaram-se desnecessários.”
Permaneceram apenas os mistérios supremos.
Parece tão impossível, tão inviável, tão ingênuo o sonho de Goren. (Semanas depois eclodirá outra rodada de lutas entre palestinos e israelenses. Foguetes arranharão o céu. Israel invadirá a vizinha Gaza. “Por causa disso vou regredir dois anos”, Goren lamentará. “Mas esperarei.”) Foi assim, afinal, que provavelmente avançamos no início, na aurora da humanidade. Contrariando probabilidades hilariantes. Por 2 500 gerações de reveses, desesperança, golpes, crises de fé. Mas, sem dúvida, essa é a busca que importa.
NG - Ternos escuros e barbas predominam em Mea Shearim, um enclave de judeus Haredi ultraortodoxos em Jerusalém
Ternos escuros e barbas predominam em Mea Shearim, um enclave de judeus Haredi ultraortodoxos em Jerusalém. Homens e mulheres ficam separados em muitas atividades públicas, em um bairro que mudou pouco desde seu surgimento, em 1874. - Foto: John Stanmeyer
ANDAMOS PARA O NORTE, Hamoudi Alweijah al Bedul e eu, desde a fronteira da Arábia Saudita. Subimos a Crista da Síria.
O que é a Crista da Síria?
Um baluarte de rocha: um colossal bloco de arenito que se ergue do Hisma, a pálida planície fronteiriça do sul da Jordânia. Os cartógrafos árabes da Idade Média desenharam essa barreira elevada como uma borda, um ponto fulcral, uma divisa. Ao sul, os vastos desertos geométricos de nômades árabes, um reduto de movimento feral, ventos volúveis, espaço aberto, couro de sela – terra das bravias tribos beduínas. Ao norte, os campos mais verdejantes e mais cobiçados de povos sedentários, de civilizações muradas, de camadas de fronteiras traçadas e apagadas – o coração de muitas câmaras do Levante. Adentramos o Crescente Fértil, a incubadora primordial da mudança humana. Uma central de impérios. Um palimpsesto de rotas de comércio. Um lugar de exílio e sacrifícios. De deuses ciumentos. A mais antiga das terras prometidas.
Hamoudi, meu guia, sobe a encosta cantando. Conduz uma mula de carga por uma corrente, curvado contra o vento gelado. Seu kaffiyeh desbotado adeja como uma bandeira. Vou na frente, puxando outra mula carregada. Hamoudi vai me guiando também, como a um animal tolo, com gritos em árabe. Em três dias, meu companheiro beduíno e eu passamos por touros neolíticos em tamanho natural entalhados em rocha no Wadi Rum, um fabuloso corredor de areia cor de tangerina – uma válvula primordial de migração humana que T.E. Lawrence chamou de “uma via processional maior do que a imaginação”. Passamos os dedos sobre inscrições de 2 000 anos gravadas por mercadores de incenso nabateus e pastores nômades. Transpusemos entulhos de fortes romanos. Acampamos ao lado de ruínas de igrejas em Bizâncio – o império cristão no Oriente – com naves desmoronadas que agora têm por teto o céu deserto marmoreado de cirros. Por toda parte vemos preces de peregrinos muçulmanos, mortos há muito tempo, entalhadas quando rumavam para o sul em direção a Meca.
A tempestade nos açoita na orla do Vale do Jordão. As mulas gemem. Desvairado por relâmpagos, um camelo manco passa a galope, berrando como um presságio zombeteiro, e desaparece na escuridão. Mulheres beduínas recusam-se a nos dar abrigo. No crepúsculo violeta, elas nos previnem de que devemos nos afastar, gritando objeções do interior de suas tendas abauladas e chacoalhantes. Cai a noite. Continuamos andando.
“Palestina”, diz Hamoudi a três pastores esquálidos, barbudos e imundos da tribo Sayadeen que finalmente nos acolhem. É um destino tão bom quanto qualquer outro.
Os pastores remexem as brasas cor de cereja de sua fogueira. Aceitam nosso café instantâneo adoçado com leite condensado, bebericando em copos de plástico com o mindinho espetado como lordes. Perguntam polidamente sobre nosso bem-estar. Louvam a Deus por estarmos satisfeitos. Tenho os pés congelados. Hamoudi pisca e escancara um sorriso. Dormirá com sua adaga sobre um tapete de areia. Amanhã é Natal.
A HUMANIDADE ESTACOU a meio caminho enquanto perambulava pelo Oriente Médio. Bandos de caçadores-coletores, cansados de 200 mil anos de andanças, fixaram-se nos vales áridos do Levante. Procuraram fontes permanentes de água potável. Aprenderam a semear ervas silvestres – cevada, trigo, linho. Domesticaram touros selvagens de chifres que atingiam 1,8 metro de envergadura. Caçar, o imperativo nômade, ficou ultrapassado para sempre. Os povos recémassentados começaram a empilhar pedra sobre pedra, erguendo as primeiras aldeias, vilas, cidades. Surgiu o metal fundido. Vieram o comércio e os exércitos. Todo um novo mundo, que ainda hoje habitamos. Essa “revolução neolítica” ocorreu entre 9 mil e 11 mil anos atrás. Irrompeu, independentemente, nas primeiras sociedades agrícolas da China, Mesoamérica e Melanésia. Mas floresceu, antes de tudo, nas amarrotadas colinas pardacentas e margens verdejantes de rios ao longo da nossa rota para fora da África.
Hamoudi e eu avançamos penosamente para o norte por 480 quilômetros, através das sombras cor de lavanda da Serra Transjordânica. Arrastamos nossas mulas teimosas pelas trilhas de Petra, a lendária capital nabateia esculpida em rochas vermelhas. Passamos por cemitérios da Idade do Bronze que continham mortos tão antigos e abandonados que quase já não pareciam humanos – Fayfa e Bad edh Dhra, as necrópoles que alguns estudiosos bíblicos associam às cidades destruídas no Gênesis, Sodoma e Gomorra.
02/12/2014 05h00 - Atualizado em 02/12/2014 05h00

Brasileiro enfrenta guerra e cobras venenosas para viajar por 192 países

'Zellfie', como é chamado, quer conhecer quase todos os países do mundo. Ele já nadou com tubarões, pilotou Ferrari e fez safári de helicóptero.

Flávia MantovaniDo G1, em São Paulo
José Hermínio Victorelli, o Zellfie, em tanque de guerra na Ucrânia (Foto: Zellfie/Divulgação)José Hermínio Victorelli, o Zellfie, em tanque de guerra na Ucrânia (Foto: Zellfie/Divulgação)
O paranaense José Hermínio Victorelli, de 32 anos, já conhecia 50 destinos fora do Brasil quando decidiu encher seu passaporte com ainda mais carimbos e lançou um objetivo ousado: visitar 192 países.
São quase todos os que existem no mundo –a ONU reconhece 193 países no planeta. Destes, o empresário e agropecuarista quer deixar de fora apenas a Somália. “Lá é perigoso demais. Não tem governo e acontecem muitos sequestros”, justifica.
Zellfie em Playa del Carmen, no México (Foto: Zellfie/Divulgação)Zellfie em Playa del Carmen, no México
(Foto: Zellfie/Divulgação)
A jornada começou em março deste ano, e ele não sabe quando deve acabar. Acredita que vai demorar cinco anos ou mais, porque costuma passar algum tempo do mês no Brasil entre uma viagem e outra. Em média, a cada duas ou três semanas José parte para um ou mais destinos. A cada país visitado, ele grava vídeos das experiências para seu site.
E são experiências intensas, que fogem dos programas turísticos tradicionais. Alguns exemplos: ele já andou em uma estrada cheia de cobras venenosas na Albânia, nadou com um tubarão-baleia sem a proteção de grades no México, pilotou uma Ferrari na Itália e uma McLaren na Croácia, treinou um gavião usando roupas típicas na Escócia e acompanhou o exército durante o conflito com rebeldes na Ucrânia.
“Minha ideia é juntar nos vídeos as três coisas que eu mais gosto: aventura extrema, curiosidades e máquinas”, diz ele, que banca as viagens do próprio bolso, mas atualmente busca patrocínio para profissionalizar os programas.
‘Zellfie’
Zellfie em algumas de suas aventuras pelo mundo (Foto: Zellfie/Divulgação)Zellfie em algumas de suas aventuras pelo mundo (Foto: Zellfie/Divulgação)
Natural de Londrina, José passou a ser conhecido nesse projeto como “Zellfie” – uma mistura de seu apelido, Zé, com a palavra “selfie”. “Eu estava na Namíbia, fiz uma ‘selfie’ e postei ‘#zellfie’. A galera rolou de rir e o apelido pegou”, conta. O “L” duplo ele diz que é uma homenagem a seu filho, que se chama Lorenzo, e a um irmão que morreu, Luiz.
Ele quer ir a lugares inóspitos. Pretende conhecer a cidade mais fria do planeta, na Sibéria, que registra temperaturas de até 60°C negativos, e uma das cidades mais quentes do mundo, no Irã, onde o termômetro passa dos 50°C
Foi na Namíbia que ele teve a ideia da viagem pelo mundo. Em uma semana que ficou lá, o paranaense percorreu 3 mil km de carro, fez safári de helicóptero, balonismo, paraquedismo e acompanhou a pesca de tubarões.
Depois, postou um vídeo de 36 segundos no Facebook sobre essas experiências, com seu forte sotaque. “Nunca tinha gravado nada. Filmei como se estivesse falando com um amigo meu, fazendo minhas piadinhas, usando os jargões do interior. Muita gente curtiu, e comecei a pensar em fazer mais vídeos de aventura para colocar na internet”, afirma.
O brasileiro na Groenlândia (Foto: Zellfie/Divulgação)O brasileiro em passagem pela Groenlândia
(Foto: Zellfie/Divulgação)
A ideia de Zellfie é conhecer alguns dos lugares mais inóspitos da Terra. Por exemplo, ele pretende ir durante o inverno para Yakutsk, na Sibéria, a cidade mais fria do planeta, que registra temperaturas de até 60°C negativos. Também quer visitar Ahvaz, no Irã, uma das cidades mais quentes do mundo, cuja temperatura no verão atinge ao menos 45°C e muitas vezes passa de 50°C.
O brasileiro já reservou um curso para aprender a dirigir tanques de guerra em Londres, quer conferir como funciona um trem-bala na China, pilotar um avião supersônico na Rússia e participar da caça a pítons gigantes por tribos africanas. “Os caras colocam a perna em um buraco, passam óleo e ficam lá por horas até que uma das cobras pegue a perna deles. Aí eles tiram a perna e vem a cobra junto. Eles comem, fazem isso por sobrevivência”, explica.
O país favorito
Zellfie carregando uma cabra e subindo em uma montanha no Afeganistão (Foto: Zellfie/Divulgação)Zellfie carregando uma cabra e subindo em uma montanha no Afeganistão (Foto: Zellfie/Divulgação)
Até hoje, Zellfie só teve problemas mais sérios duas vezes. Na Ucrânia, furtaram sua carteira, que estava no bolso de trás da calça. Já na fronteira do Afeganistão com o Tajiquistão, em um corredor de colinas que serve para escoar ópio para a fabricação de heroína, ele foi abordado pelo exército. “É um dos lugares mais tensos do mundo. Tomaram meu passaporte, queriam dinheiro, não queriam devolver”, conta. No fim, ele recuperou seu documento.
Seu país favorito até agora foi onde tudo começou: a Namíbia. “Em termos de visual e de atividades de aventura foi meu preferido. Fiquei chocado com as coisas que eu vi, as estradas onde andei, as pessoas que conheci”, diz.
Ele diz que vai voltar a todos os países que já conhecia antes de começar o projeto, para completar a lista de 192 "começando do zero". Afirma, ainda, que a viagem não tem uma ordem definida de destinos: "Pego o mapa-múndi na tela do computador e escolho: desta vez vamos para... E vou!”.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Água de lençol freático em edifícios de SP pode ser usado para limpeza

Folha de S.Paulo
MARCOS DÁVILA
DE SÃO PAULO 
23/11/2014 - 02h00

Faz dias que não chove. O sol castiga o asfalto no bairro da Liberdade e eis que surge um riacho veloz na sarjeta da rua Dr. Tomaz de Lima (região central). O nível do reservatório Cantareira registra apenas 10% de sua capacidade, contando o volume morto. Então, de onde vem tanta água em plena crise hídrica?

A corredeira chega a fazer barulho, arrastando as folhas secas e bitucas de cigarro à beira do meio-fio. Será algum desavisado limpando a calçada com o esguicho? Ninguém à vista naquele trecho da via.

O mistério é resolvido ao dobrar a esquina na rua Conde de Sarzeda, no alto da ladeira. O aguaçal vem de um cano na calçada em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo, no Edifício 9 de Julho, número 100.

"Com essa água dava para lavar a nossa frota de carros", diz um motorista que trabalha no tribunal. Segundo ele, a água jorra de meia em meia hora. Todos os dias são despejados milhares de litros na sarjeta, que já ganhou uma camada de limo.

Devido à profundidade da fundação do prédio, a água do lençol freático é desviada para um reservatório para não causar alagamento nas garagens dos subsolos. De quando em quando, a bomba é acionada, lançando o excesso de líquido para a rede pluvial na rua.

De acordo com o Tribunal de Justiça, "foram feitas diversas tentativas de reutilização da água, mas o forte cheiro de esgoto inviabiliza o uso".

Esse tipo de situação se repete em centenas de prédios na cidade, porém, não existe um levantamento oficial que contabilize todos os casos de edificações que fazem brotar água do lençol freático por conta da profundidade da fundação.

Dependendo da região da cidade, esses reservatórios superficiais subterrâneos, abastecidos pelas chuvas e vazamentos da rede pública, podem ser atingidos a menos de cinco metros de profundidade.

ARMAZENAMENTO

Na rua Estevão Barbosa, nos fundos do edifício residencial Spazio di Vivere, na Vila Anglo (região oeste), um cano lança água na rua. Segundo o zelador Miguel Ramos da Costa, 55, a construção atingiu o lençol freático e precisa bombear a água para não inundar o segundo subsolo.

Parte da água drenada é armazenada em um poço em um reservatório de 5.000 litros e é usada para lavar o pátio e regar as plantas.

"Não é água potável, mas fizemos uma análise no Instituto Adolfo Lutz e ela foi considerada satisfatória para esse uso", diz o zelador.

Logo em frente fica um depósito de material reciclável. Indignado com o desperdício, o proprietário Roberto Barriento, 46, criou um sistema de captação com um pedaço de cano e uma mangueira.

São necessários apenas três minutos para encher um tonel de 200 litros, tamanha a pressão. Ele trabalha há 28 anos no mesmo local e aproveita a água para lavar os carros e o pátio.

"Liguei para a Sabesp várias vezes, mandei e-mail, mas ninguém vem", diz Barriento. A empresa não é responsável pelos casos de rebaixamento do lençol freático -apenas se a água for direcionada para a rede de esgoto, cuidada pela estatal, é preciso pagar taxa mensal.

As águas subterrâneas são assunto do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica). Por meio de sua assessoria de comunicação, o Daee afirma que "o processo de lançamento dessa água [dos lençóis freáticos] na sarjeta é uma prática regular, pois, dessa maneira, ela cumpre o seu ciclo hídrico. O não descarte desse recurso pode ser prejudicial à estrutura do imóvel".

Segundo o Daee, para o descarte em via pública, não é necessária nenhuma formalização.

O pedido de outorga ou cadastramento só é necessário quando se faz a utilização da água. Em setembro, o órgão publicou uma portaria que permite o uso de recursos hídricos decorrentes de rebaixamento de lençol freático. Quando a captação atinge uma quantidade igual ou superior a 5.000 litros por dia, está sujeita ao cadastramento e à outorga. Se for inferior, é necessário apenas o cadastramento.

De acordo com a Cetesb (companhia ambiental de SP), a água proveniente do rebaixamento do lençol não pode ser ingerida e deve ser armazenada separadamente da água potável da rede pública.

"Estamos jogando fora uma coisa que agora tem valor, mas antes não se dava bola", afirma Reginaldo Bertolo, diretor do Cepas (Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas), da USP, sobre os recursos do lençol freático. Ele explica que essas águas tendem a ter uma qualidade ruim.

"Toda sorte de atividades que acontecem na superfície geram poluentes que migram solo adentro até alcançar o aquífero freático."

Os vazamentos da rede pública de esgoto, de postos de gasolina e de fossas são apontados como os principais causadores de contaminação. Os resíduos industriais podem gerar uma poluição ainda mais tóxica.

Mesmo sem potabilidade, esse recurso hídrico poderia ser utilizado para lavagem de calçadas, pátios e carros, rega de jardins e até como descarga sanitária. "Prédios que drenam continuamente a água do freático devem investir num reservatório para que a água seja usada para fins não nobres", diz Bertolo.

O professor de engenharia hídrica Ivanildo Hespanhol, diretor do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água, cita o exemplo do Sesc Pinheiros, na zona oeste.

Durante a construção, brotou água com alta concentração de ferro em dois pontos da garagem. Depois de tratada, a água pode ser usada nas bacias sanitárias e na limpeza do piso. Mensalmente, são captados e utilizados 600 mil litros.

ÁGUAS PROFUNDAS

Um estudo do Cepas mostra que há hoje uma oferta de 16 mil litros de água por segundo nos aquíferos da região metropolitana. É uma vazão compatível com uma Guarapiranga inteira, que abastece 4,9 milhões de pessoas. Dez mil litros de água por segundo já são utilizados por poços privados, inclusive os clandestinos.

De acordo com o diretor do Cepas, é preciso diferenciar a água encontrada no aquífero superficial —que pode aparecer nas garagens dos prédios— daquela dos poços profundos, chamados de artesianos.

Esses poços chegam a ter entre 150 e 200 metros de profundidade e captam uma água de boa qualidade. A vazão é alta e permite atender demandas de hospitais, creches, escolas, indústrias e condomínios.

A maior parte deles, no entanto, é ilegal. O mesmo estudo do Cepas mostra que, dos 12 mil poços 60% são clandestinos. Além disso, existem áreas superexploradas. "Algumas zonas estão secando", alerta.

O diretor do Cepas explica que a quantidade de poços profundos utilizada para o abastecimento público é irrisória. Esse recurso deveria ser considerado nas épocas de seca.

"É uma água privatizada. Talvez chegue o momento em que alguma autoridade pública decrete estado de calamidade ou emergência e esses poços particulares sejam requeridos. A água subterrânea pode desempenhar um papel muito importante para a segurança hídrica da população, principalmente em momentos de escassez".

terça-feira, 18 de novembro de 2014

INFORMAÇÕES PARA O NOVO SÉCULO

Pré-sal vs. mudança climática

31.10.2014

Para produzir a reportagem sobre política energéticaMão e contramão, publicada na edição 90, Página22 foi a campo pesquisar a relação de tempo existente entre o início da exploração do pré-sal brasileiro, que atingirá cinco milhões de barris ao dia em 2021, e a queda da demanda mundial por fontes de energia fóssil. Há um forte consenso de que por volta dos anos 2050 os países estarão em plena transição de suas matrizes energéticas para fontes renováveis. A proposta que orientou a reportagem foi: haverá tempo de o Brasil usufruir do potencial de riqueza do pré-sal? Ou, para tentar impedir o aumento além dos 2 graus na temperatura média da Terra, o mundo fará a transição para a energia renovável mais rápido do que se pensa?

Veja a integra das entrevistas com Roberto Schaeffer, Carlos Rittl e Maurício Tolmasquim

A seguir, entrevista com Roberto Schaeffer, professor de planejamento energético da Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Se o Brasil exporta petróleo do pré-sal, que é um petróleo bom, você até poderia dizer sim que o País está ajudando a reduzir as emissões no mundo. Afinal, o mundo terá a opção de consumir um petróleo de melhor qualidade e não um ruim como o canadense ou o venezuelano”

Sob a perspectiva da mudança climática, existe um paradoxo no fato de o Brasil iniciar a exploração do pré-sal em um momento que deveria ser de restrição às energias fósseis?

No começo deste ano, eu e outros dois colegas da Coppe (Alexandre Szklo e Rodrigo Lucchesi), publicamos um artigo científico no Energy Policy justamente discutindo essa questão. (José) Goldemberg (professor da Universidade de São Paulo) nos convidou para escrevermos juntos o artigo “Oil and natural gas prospects in South America: Can the petroleum industry pave the way for renewables in Brazil?” sobre o pré-sal no Brasil para o (jornal) Energy Policy. O artigo mostra que quando se começa a produzir petróleo não obrigatoriamente cria-se demanda por esse petróleo. Os carros já estão na rua, as pessoas já estão consumindo. Não é porque o Brasil achou petróleo que irá consumir mais petróleo. O que vai ou não fazer isso são outras políticas associadas a questão do pré-sal. Por exemplo, neste momento (a entrevista foi realizada em 10 de outubro), para controlar a inflação, o governo está mantendo o preço da gasolina artificialmente baixo. Com isso, o Brasil está consumindo mais gasolina, está emitindo mais e não tem nada a ver com o pré-sal.
Ou seja, achar e produzir petróleo não tem relação direta com as emissões?

Exato. O Brasil não vai dirigir mais carro porque tem pré-sal. As emissões dependem de como esse petróleo será consumido e de que preço ele terá. Outro ponto é: o petróleo do pré-sal brasileiro é relativamente de boa qualidade. É leve, o que torna mais fácil produzir derivados de alto valor agregado como gasolina, diesel e querosene de aviação. Isso significa gastar muito menos energia, emitir muito menos do que se esse mesmo derivado fosse feito a partir de um petróleo pesado. Hoje o Canadá é o principal fornecedor dos EUA e seu petróleo é produzido a partir de areias betuminosas. É uma areia dura, sólida. O processo é complicadíssimo e emite muito para fazer gasolina e diesel. Dado que os melhores petróleos do mundo estão acabando, o mundo está indo para petróleos cada vez piores.

Quer dizer que o pré-sal pode até ajudar a diminuir as emissões? Parece bem contraditório.

Não se trata de uma defesa do petróleo, mas, nesse caso, partindo do pressuposto de que não se está criando demanda nova para o petróleo, se o Brasil exporta petróleo do pré-sal, que é um petróleo bom, você até poderia dizer sim que o País está ajudando a reduzir as emissões no mundo. Afinal, o mundo terá a opção de consumir um petróleo de melhor qualidade e não um ruim como o canadense ou o venezuelano.

Sem querer dar uma de advogado do diabo, a priori você não pode achar ruim um país que investe em petróleo. Queira ou não o mundo vai ficar dependente de petróleo pelos próximos 40 ou 50 anos. Os aviões vão continuar a voar com petróleo. Os carros comprados hoje vão ficar nas ruas pelo menos uns 20 anos. Não é de uma hora pra outro que o mundo vai ficar sem petróleo. Assim, é melhor que ele consuma um produto bom do que um produto ruim.

Há uma questão também que é a associação do petróleo, no caso do pré-sal, com gás natural. Em princípio não faz sentido econômico furar um poço para produzir gás natural. O normal é furar um poço para produzir petróleo e se tiver gás natural é um benefício adicional. O gás natural é visto um pouco como o combustível que vai permitir a transição de um mundo mais carbono intensivo para um mundo menos carbono intensivo, ou até um mundo quase sem carbono. O petróleo do pré-sal permitirá, por exemplo, que o Brasil possa expandir parte da sua geração elétrica mais para o gás natural e não tanto para o carvão.
Explique melhor essa participação do gás natural, por favor.

Para lidar com a intermitência das fontes renováveis eólica e solar é preciso ter outra fonte que tenha partida rápida e consiga fazer com que o sistema não caia. O gás natural é visto talvez como o melhor combustível para fazer esse papel. O carvão, a energia nuclear e a própria lenha ou bagaço de cana não se prestam a isso porque não têm essa velocidade de partida.

Melhor que o gás natural é a hidroeletricidade porque turbinas hidráulicas conseguem ligar muito rapidamente. Mas dado que o Brasil cada vez mais está indo para usinas a fio d’água, ou seja, sem reservatório, o Brasil ou as hidrelétricas brasileiras começam a perder essa capacidade de firmar essa intermitência dos renováveis.

Mas o mundo está caminhando para as renováveis, será que o Brasil está fazendo um bom negócio ao investir no pré-sal?

Nesse artigo (do Energy Policy) a gente mostra um pouco isso. Dado que o mundo durante algum tempo ainda vai depender do petróleo, como os royalties poderiam ser bem aplicados no Brasil? Justamente para lidar com educação e para preparar o sistema energético brasileiro para um futuro só dependente de renováveis. Mas esse futuro vai precisar de muito dinheiro para vir a acontecer e talvez o pré-sal venha a ser uma boa fonte de recurso para se viabilizar esse projeto. A linha do nosso artigo é não demonizar o petróleo, mas mostrar como usar o petróleo para se preparar para um mundo que não emita mais carbono.

Mas o Brasil vem reduzindo os investimentos em renováveis.

Dei uma aula  na PUC do Rio de Janeiro a convite do (jornalista e professor) André Trigueiro sobre mudança climática. Um aluno perguntou por que o País gastava  dinheiro com o pré-sal e não gastava com eólica e solar. Eu respondi que no fundo são dinheiros diferentes. Se você for a um banco hoje, em qualquer lugar do mundo e pedir emprestado US$ 200 milhões para investir em solar no Brasil não vai conseguir.  O motivo é que se o  negócio quebrar não haverá nenhuma garantia para dar em troca. Mas se você pedir US$ 200 milhões para financiar a produção de petróleo do pré-sal conseguirá. Se você quebrar o banco pega o seu petróleo. Não há risco nenhum. Então, quando falam que se gasta em petróleo  o que poderia ser gasto em renováveis, eu digo que são dinheiros diferentes. O dinheiro do petróleo se paga. O do solar e o do eólico não obrigatoriamente, ou todo mundo estaria investindo nisso. Mas todos os países que estão investindo muito em renováveis, investem na margem, na franja. Claro tem exceções como a Noruega, mas de maneira geral, a base de qualquer sistema energético hoje ainda é o combustível fóssil. O Brasil é também uma exceção.

E quanto aos prazos? Vamos ter tempo de consumir e exportar todo aquele petróleo?

Investimentos na área de energia são de longuíssimo prazo. A hora que o Brasil inaugurar (a usina nuclear) Angra 3, ela funcionará por 40, 50 ou 60 anos. Uma térmica a carvão também dura 50 anos. O carro dura 20 anos então essa transição não se completará de uma hora para outra. Depois, o petróleo será cada vez mais importante para seus usos não energéticos. Toda a indústria química tem o petróleo como base. O plástico é derivado do petróleo. O uso não energético é um uso nobre, que produz bens duráveis. Mesmo que não fosse para energia, o pré-sal faria sentido para esses outros usos.

Se a política econômica for popularesca como a da Arábia Saudita, a da Venezuela e a do México, que por terem muito petróleo vendem a gasolina quase de graça, aí sim a emissão pode aumentar muito. É uma grande bobagem jogar dinheiro fora para subsidiar a classe média para andar de carro. Mas estamos partindo do princípio de que não será assim. O mundo vai pagar US$ 100 a tonelada de petróleo, a Petrobras vai se encher de dinheiro e, como o governo é o maior acionista, vai investir em solar, em eólica e em educação.

Mas o petróleo do pré-sal nem é tão barato quando o da Arábia Saudita e o da Venezuela, certo?

O pré-sal é caro para ser produzido, mas como os volumes achados são tão absurdamente altos pode-se dizer que terá um custo médio. É segredo de Estado o custo de produção de petróleo. Desconfia-se que na América do Sul e no Oriente Médio chega-se a produzir petróleo a US$ 5 o barril. No Canadá talvez custe US$ 50. No pré-sal desconfia-se que custe entre US$ 30 e US$ 40. Se for  vendido a US$ 100  ainda será um bom negócio.

Até quando vai durar a exploração do pré-sal?

O ciclo de um campo de petróleo é de 25 a 30 anos. Então na hipótese de não se achar mais petróleo no pré-sal, e na hipótese de começarmos a produzir com toda a capacidade em 2020, haverá um pico de produção em 2035. E lá por 2045 acaba. Talvez coincida com o ciclo final do petróleo no mundo. Otiming não está ruim. Se o Brasil achasse o petróleo daqui a 20 anos talvez não valesse mais a pena explorar. Mas agora vale. As pessoas gostam de andar de avião, de ter coisas de plástico. O petróleo permite esse conforto.

Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

O petróleo no mundo continuará sendo usado apesar do aumento da participação das renováveis, principalmente na área de transporte e indústria. Então é um benefício importante que a sociedade tem. E não é antagônico à mitigação dos gases de efeito estufa”

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Dia do Pantanal (Bioma Riquíssimo!)

Robô Philae pousa em cometa e envia dados




AFP - Agence France-Presse
Publicação: 12/11/2014 20:52 Atualização:



   

A Europa fez história nesta quarta-feira, ao conseguir pousar seu primeiro robô em um cometa, mas o veículo não se firmou adequadamente no solo, despertando preocupação no controle da missão.
O laboratório mecanizado, do tamanho de uma geladeira e com cerca de 100 quilos de peso, tocou a superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em uma manobra de alto risco, a mais de 510 milhões de quilômetros da Terra, anunciou a Agência Espacial Europeia (ESA).
Mas, ao invés de se prender à superfície do corpo celeste após uma descida de sete horas a partir da Rosetta, a sonda à qual estava acoplado, o robô pode ter pousado em uma superfície macia ou quicado suavemente para depois se estabilizar.
"Assim, talvez hoje não tenhamos pousado uma, mas duas vezes", disse o gerente encarregado do módulo Philae, Stephan Ulamec, no centro de controle em Darmstadt, Alemanha, algumas horas depois do pouso.
"Esperamos estar lá, posicionados na superfície em uma localização sutilmente diferente daquela do pouso original e continuar a fazer ciência", prosseguiu.
Vários instrumentos a bordo de Philae já enviaram à Terra uma "montanha de dados", afirmou.
Os engenheiros ainda precisam descobrir o que levou o robô a falhar no lançamento do par de ganchos na superfície do cometa, desenvolvidos para evitar que se afaste do corpo celeste, que tem baixíssima gravidade. Até agora, sua sorte é um mistério.
"Será que apenas pousamos em uma caixa de areia macia e tudo está bem, embora não tenhamos atracado, ou será que algo mais está acontecendo?", questionou Ulamec.
Com as comunicações entre Philae e a sonda comprometidas nas próximas horas, algo esperado pois Rosetta desaparece na órbita atrás do cometa, pode ser que haja poucas informações antes do boletim à imprensa, previsto para as 13H00 GMT (11H00 de Brasília) desta quinta-feira.
- 'Um grande passo' -
Apesar das incertezas, houve comemoração quando o Philae se separou de Rosetta, como previsto, e se dirigiu para o "67P" depois de uma jornada de uma década e 6,5 bilhões de quilômetros.
Uma multidão de cientistas, convidados e VIPs, inclusive dois astrônomos ucranianos que descobriram o cometa, em 1969, comemoraram quando chegou à Terra o sinal, confirmando o contato com o cometa.
"Este é um grande passo para a civilização humana", disse o diretor-geral da ESA, Jean-Jacques Dordain.
"Nossa ambiciosa missão Rosetta garantiu seu lugar nos livros de História. Não apenas é a primeira órbita e o primeiro encontro com um cometa, mas agora também é o primeiro envio, de parte de uma sonda, à superfície de um cometa", prosseguiu.
O diretor de ciência planetária da Nasa, Jim Green, também comemorou o feito.
"Quão audacioso, quão excitante, quão inacreditável é conseguir pousar em um cometa, dar este passo que todos queríamos dar, de uma perspectiva científica", afirmou.
"É o começo de algo importante. O Sistema Solar é da humanidade: esta missão é o primeiro passo para conquistá-lo. Ele é nosso", prosseguiu.
Aprovada em 1993 e com custo de 1,3 bilhão de euros (US$ 1,6 bilhão), a missão Rosetta se lançou ao espaço em 2004, levando junto o módulo Philae, equipado com 10 instrumentos.
Sonda e robô alcançaram seu alvo em agosto deste ano, usando o empuxo gravitacional da Terra e de Marte como verdadeiros estilingues espaciais.
Philae deveria ter feito uma descida suave, a 3,5 km/h sobre "67P" e disparado um par de ganchos sobre sua superfície, garantindo estabilidade durante suas explorações científicas.
Na última checagem antes da separação, um problema foi detectado com o pequeno propulsor no topo do robô, criado para neutralizar qualquer recuo durante o pouso.
Mas a falha não foi considerada séria o suficiente para suspender a contagem regressiva.
Ao orbitar lentamente o "67P" desde agosto, Rosetta fez algumas observações surpreendentes sobre o cometa.
Seu contorno lembra de alguma forma o de um patinho de borracha, mais escuro que o carvão e com uma superfície retorcida e bombardeada por bilhões de anos no espaço, o que fez dele um ponto difícil de pousar.
A missão de Philae inclui perfurar a superfície do cometa e analisar amostras de marcadores de isótopos de água e moléculas complexas de carbono.
Em Toulouse, sul da França, o astrofísico Philippe Gaudon, que chefia a missão Rosetta na agência espacial francesa (CNES), afirmou que será difícil para Philae fazer perfurações no cometa se não estiver atracado.
"Apesar disso, Philae não tombou e parece estar se estabilizando", acrescentou Gaudon. "E vários instrumentos continuam a operar, sobretudo de medição de temperatura, vibração, magnetismo, etc".
Ele e outros cientistas esperam que as amostras da perfuração do cometa lancem luz sobre como o nosso Sistema Solar e até mesmo a vida na Terra foram criados.
Segundo a teoria corrente, os cometas bombardearam a nascente Terra 4,6 bilhões de anos atrás, trazendo para cá moléculas de carbono e a preciosa água, partes importantes da caixa de ferramentas fundamental para a vida no nosso planeta.
Philae tem bateria suficiente para realizar cerca de 60 horas de trabalho, mas pode continuar até março, com uma recarga solar.
O que quer que aconteça com sua carga, Rosetta continuará a acompanhar o cometa, analisando-o com 11 instrumentos quando orbitar o Sol no ano que vem. A missão está prevista para terminar em dezembro de 2015.

domingo, 9 de novembro de 2014

Reutilização da água poluída (Água de Reuso)

A reutilização ou reuso de água ou, ainda em outra forma de expressão, o uso de águas residuárias, não é um conceito novo e tem sido praticado em todo o mundo há muitos anos. Existem relatos de sua prática na Grécia Antiga, com a disposição de esgotos e sua utilização na irrigação. No entanto, a demanda crescente por água tem feito do reuso planejado da água um tema atual e de grande importância. Neste sentido, deve-se considerar o reuso de água como parte de uma atividade mais abrangente que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende também o controle de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de efluentes e do consumo de água.

Dentro dessa ótica, os esgotos tratados têm um papel fundamental no planejamento e na gestão sustentável dos recursos hídricos como um substituto para o uso de águas destinadas a fins agrícolas e de irrigação, entre outros. Ao liberar as fontes de água de boa qualidade para abastecimento público e outros usos prioritários, o uso de esgotos contribui para a conservação dos recursos e acrescenta uma dimensão econômica ao planejamento dos recursos hídricos.

O ”reuso” reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à substituição da água potável por uma água de qualidade inferior. Essa prática, atualmente muito discutida, posta em evidência e já utilizada em alguns países é baseada no conceito de substituição de mananciais. Tal substituição é possível em função da qualidade requerida para um uso específico. Dessa forma, grandes volumes de água potável podem ser poupados pelo reuso quando se utiliza água de qualidade inferior (geralmente efluentes pós-tratados) para atendimento das finalidades que podem prescindir desse recurso dentro dos padrões de potabilidade.

Águas Residuárias

Águas residuais ou residuárias são todas as águas descartadas que resultam da utilização para diversos processos. Exemplos destas águas são:

Águas residuais domésticas:

Provenientes de banhos;
Provenientes de cozinhas;
Provenientes de lavagens de pavimentos domésticos.

Águas residuais industriais:

Resultantes de processos de fabricação.

Águas de infiltração:

Resultam da infiltração nos coletores de água existente nos terrenos.

Águas urbanas:

Resultam de chuvas, lavagem de pavimentos, regas, etc.

As águas residuais transportam uma quantidade apreciável de materiais poluentes que se não forem retirados podem prejudicar a qualidade das águas dos rios, comprometendo não só toda a fauna e flora destes meios, mas também, todas as utilizações que são dadas a estes meios, como sejam, a pesca, a balneabilidade, a navegação, a geração de energia, etc.

É recomendado recolher todas as águas residuais produzidas e transportá-las até a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR). Depois de recolhidas nos coletores, as águas residuais são conduzidas até a estação, onde se processa o seu tratamento.

O tratamento efetuado é, na maioria das vezes, biológico, recorrendo-se ainda a um processo físico para a remoção de sólidos grosseiros. Neste sentido a água residual ao entrar na ETAR passa por um canal onde estão montadas grades em paralelo, que servem para reter os sólidos de maiores dimensões, tais como, paus, pedras, etc., que prejudicam o processo de tratamento. Os resíduos recolhidos são acondicionados em contentores, sendo posteriormente encaminhados para o aterro sanitário.

Muitos destes resíduos têm origem nas residências onde, por falta de instrução e conhecimento das conseqüências de tais ações, deixa-se para o sanitário objetos como: cotonetes, preservativos, absorventes, papel higiênico, etc. Estes resíduos devido às suas características são extremamente difíceis de capturar nas grades e, conseqüentemente, passam para as lagoas prejudicando o processo de tratamento.

A seguir a água residual, já desprovida de sólidos grosseiros, continua o seu caminho pelo mesmo canal onde é feita a medição da quantidade de água que entrará na ETAR. A operação que se segue é a desarenação, que consiste na remoção de sólidos de pequena dimensão, como sejam as areias. Este processo ocorre em dois tanques circulares que se designam por desarenadores. A partir deste ponto a água residual passa a sofrer um tratamento estritamente biológico por recurso a lagoas de estabilização (processo de lagunagem).

O tratamento deverá atender à legislação (Resolução do CONAMA nº 020/86) que define a qualidade de águas em função do uso a que está sujeita, designadamente, águas para consumo humano, águas para suporte de vida aquática, águas balneares e águas de rega.

Tipos de Reuso

A reutilização de água pode ser direta ou indireta, decorrentes de ações planejadas ou não:

Reuso indireto não planejado da água: ocorre quando a água, utilizada em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada. Caminhando até o ponto de captação para o novo usuário, a mesma está sujeita às ações naturais do ciclo hidrológico (diluição, autodepuração).Reuso indireto planejado da água: ocorre quando os efluentes, depois de tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira controlada, no atendimento de algum uso benéfico.O reuso indireto planejado da água pressupõe que exista também um controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros efluentes que também atendam ao requisito de qualidade do reuso objetivado.Reuso direto planejado das águas: ocorre quando os efluentes, após tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reuso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso com maior ocorrência, destinando-se a uso em indústria ou irrigação.

Aplicações da Água Reciclada

Irrigação paisagística: parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de auto-estradas, campus universitários, cinturões verdes, gramados residenciais.Irrigação de campos para cultivos - plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos, plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais, proteção contra geadas.Usos industriais: refrigeração, alimentação de caldeiras, água de processamento.Recarga de aqüíferos: recarga de aqüíferos potáveis, controle de intrusão marinha, controle de recalques de subsolo.Usos urbanos não-potáveis: irrigação paisagística, combate ao fogo, descarga de vasos sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas e pontos de ônibus, etc.Finalidades ambientais: aumento de vazão em cursos de água, aplicação em pântanos, terras alagadas, indústrias de pesca.Usos diversos: aqüicultura, construções, controle de poeira, dessedentação de animais.

Problemática no Brasil

No Brasil, a prática do uso de esgotos - principalmente para a irrigação de hortaliças e de algumas culturas forrageiras - é de certa forma difundida. Entretanto, constitui-se em um procedimento não institucionalizado e tem se desenvolvido até agora sem nenhuma forma de planejamento ou controle. Na maioria das vezes é totalmente inconsciente por parte do usuário, que utiliza águas altamente poluídas de córregos e rios adjacentes para irrigação de hortaliças e outros vegetais, ignorando que esteja exercendo uma prática danosa à saúde pública dos consumidores e provocando impactos ambientais negativos. Em termos de reuso industrial, a prática começa a se implementar, mas ainda associada a iniciativas isoladas, a maioria das quais, dentro do setor privado.

A lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997, em seu Capitulo II, Artigo 20, Inciso 1, estabelece, entre os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos, a necessidade de “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”. Verificou-se, por intermédio dos Planos Diretores de Recursos Hídricos de bacias hidrográficas - em levantamento realizado a fim de se conhecer mais profundamente a realidade nas diversas bacias hidrográficas brasileiras - que há a identificação de problemas relativamente à questão de saneamento básico, coleta e tratamento de esgotos e propostas para a implementação de planos de saneamento básico. Entretanto, não se consegue identificar atividades de reuso de água utilizando efluentes pós-tratados per sei. Isso deve-se ao fato, talvez, do ainda relativo desconhecimento dessa tecnologia e por motivos de ordem sócio-cultural. 

Mesmo assim, considerando que já existe atividade de reuso de água com fins agrícolas em certas regiões do Brasil, a qual é exercida de maneira informal e sem as salvaguardas ambientais e de saúde pública adequadas, torna-se necessário institucionalizar, regulamentar e promover o setor através da criação de estruturas de gestão, preparação de legislação, disseminação de informação, e do desenvolvimento de tecnologias compatíveis com as nossas condições técnicas, culturais e socioeconômicas.

É nesse sentido que a Superintendência de Cobrança e Conservação - SCC - da Agência Nacional de Águas, inova ao pretender iniciar processos de gestão a fim de fomentar e difundir essa tecnologia e ao investigar formas de se estabelecer bases políticas, legais e institucionais para o reuso de água neste país.

Fonte: ww.reusodeagua.hpg.com.br e ww

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

How To Survive The End of The World

http://channel.nationalgeographic.com/channel/how-to-survive-the-end-of-the-world/videos/itll-rain-for-the-next-300-years/?source=searchvideo

sábado, 1 de novembro de 2014

Fiquem de Olho!

O comércio está adotando uma pratica excludente que visa limitar o acesso da população ao crédito, com base num conceito chamado score, que avalia a possibilidade do cidadão dar calote no comércio e esse critério é adotado mesmo se o cidadão tem o nome limpo ou se  regularizou sua situação frente aos credores.
Do jeito que as coisas vão,  se essa prática excludente continuar, a economia vai afunilar e o país entrar em recessão, pois o que move a economia é o poder de compra do cidadão e quando este item lhe é tirado, quebra o ciclo de consumo e comercio, que dá vida a economia.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ilhas da Linha meridionais: um novo mundo

Um paraíso subaquático no Oceano Pacífico, está sendo protegido graças ao projeto Pristine Seas, da National Geographic Society

Edição 175 - NATIONAL GEOGRAFIC BRASIL/Outubro de 2014 02/09/2014
por Kennedy Warne

NG - Um paraíso subaquático, que inclui as águas ao redor da remota Ilha Caroline, no Oceano Pacífico 

Um paraíso subaquático, que inclui as águas ao redor da remota Ilha Caroline, no Oceano Pacífico, está sendo protegido graças ao projeto Pristine Seas, da National Geographic Society.
“Se um extraterrestre visitasse a terra e quisesse conhecer um recife de corais, eu mostraria a ele o atol de milênio”, diz Enric Sala, explorador-residente da National Geographic Society.

E o que esse ET veria faz parte do que talvez seja o arquipélago mais bem preservado do Oceano Pacífico: as cinco ilhas conhecidas como Caroline (ou Milênio), Flint, Vostok, Malden e Starbuck – que juntas formam as Ilhas da Linha meridionais. As águas ao redor desses pontos, situados de 2 400 a 3 400 quilômetros ao sul do Havaí, estão entre as derradeiras intocadas em um oceano explorado à exaustão.

Agora essa área vai virar uma reserva protegida. Finalmente. Há pouco tempo, o governo de Kiribati estabeleceu, em torno de todas as ilhas, uma zona de 12 milhas náuticas na qual não se pode mais pescar, como parte de um esforço liderado pelo ecologista espanhol Enric Sala, no âmbito do projeto Pristine Seas [Mares Intocados], da National Geographic Society, que visa a documentar e preservar o que resta dos ambientes marinhos menos alterados do planeta. A criação de uma reserva nas Ilhas da Linha meridionais é algo que Sala busca desde que conduziu uma expedição científica na região em 2009. “Essas ilhas nos ajudam a entender perfeitamente o que significa o termo ‘intacto’. Desde a densidade de corais, biomassa de peixes, quantidade de superpredadores, biodiversidade, os dados ecológicos são impressionantes.”

Durante a expedição de 2009, os mergulhadores passaram mais de mil horas submersos ao largo das cinco ilhas. E ficaram assombrados com o que viram. Em alguns recifes os corais cobriam 90% do leito oceânico – bem mais do que os 5% a 10% encontrados no Caribe.

NG - Corais das Ilhas da Linha 

Os corais do mundo estão morrendo pelo branqueamento e por doenças, mas os das Ilhas da Linha (foto) seguem saudáveis. Para os cientistas, a chave está nos ecossistemas ilesos, nos quais todas as espécies nativas – incluindo as que se alimentam de plâncton – têm seu papel - Foto: Brian Skerry

Os cientistas também se surpreenderam com o excelente estado de saúde das comunidades coralinas. Por todo o Oceano Pacífico, os picos de temperatura da água, causados por eventos climáticos associados ao El Niño, provocaram a extinção de imensas extensões de corais. No entanto, os recifes nas Ilhas da Linha meridionais não parecem ter sido prejudicados. “Sabemos que essa região foi bastante afetada pelo aquecimento do mar e esperávamos constatar a morte de corais, mas vimos que os recifes estavam ilesos – e em excelentes condições”, comenta Sala.

Os corais tendem a mostrar maior capacidade de recuperação onde outros elementos do ecossistema marinho também estão prosperando. Em certas partes dos corais de Milênio, a densidade de mexilhões gigantes chega a 40 indivíduos por metro quadrado – uma abundância dificilmente vista desses animais tão requisitados por sua carne e suas conchas. “Os mexilhões gigantes foram dizimados na maioria das lagunas de atóis ao redor do mundo. Mas em Milênio os recifes estão cobertos deles”, diz Sala.

A espécie mais comum é a Tridacna maxima, conhecida por ali por um nome que soa contraditório, “mexilhão-gigante-pequeno”. São pouco maiores do que uma bola de rúgbi, mas que parecem anões ao lado dos moluscos bivalves, a Tridacna gigas, que chega a ter 1,3 metro de comprimento. À primeira vista, os pequenos gigantes parecem que usam batom azul ou verde. Na realidade, a cor vem de células de pigmento no interior de seus mantos carnosos, que se projetam como lábios quando a concha se abre.

Esses animais que se alimentam por filtragem funcionam como purificadores da água. Os microbiólogos que participaram da expedição mediram a concentração de bactérias em todos os atóis. Em Milênio, eles constataram o menor teor de bactérias. Estas são responsáveis por doenças em corais, peixes, mariscos e crustáceos. Um teor reduzido de bactérias na água do mar é a marca de um ecossistema saudável.

 

31/10/2014 03h00 - Atualizado em 31/10/2014 03h00


Pescadores têm de largar o ofício: 'O Rio São Francisco está morrendo'

Seca da principal nascente do Velho Chico foi descoberta durante incêndio.
Situação comprometeu 90% da pesca em Iguatama (MG).

31/10/2014 03h00 - Atualizado em 31/10/2014 03h00

Pescadores têm de largar o ofício: 'O Rio São Francisco está morrendo'

Seca da principal nascente do Velho Chico foi descoberta durante incêndio.
Situação comprometeu 90% da pesca em Iguatama (MG).

Anna Lúcia Silva Do G1 Centro-Oeste de Minas
 
Rio São Francisco está abaixo do nível normal (Foto: Anna Lúcia Silva/G1) 
Nível do rio já chegou quase na altura da ponte de 10 metros (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
 
A seca da nascente do Rio São Francisco, em São Roque de Minas, tem afetado de forma drástica uma das principais atividades econômicas da cidade de Iguatama, a 234 quilômetros de Belo Horizonte. Primeiro município a ser banhado pelo Velho Chico no Centro-Oeste do estado, a cidade está com 90% da pesca comprometida, segundo a Colônia de Pescadores Profissionais. De cima da ponte que cruza o rio, a imagem é desoladora. "É dramático olhar para baixo e ver lama e pedaços de madeira. A água acabou e esse rio está morrendo", lamenta Francisco Romoaldo dos Campos, pescador há mais de 30 anos.

A maioria dos 75 profissionais passa por dificuldades e muitos têm procurado alternativas para sustentar as famílias. Há cinco anos, Pedro Henrique Soares pesca no Rio São Francisco. Porém, com a seca rigorosa deste ano, ele precisou recorrer a outros meios para manter a família. “Trabalho como servente de pedreiro para ganhar dinheiro. Não podemos parar de comer, não é? Da pesca não dá para viver mais, pelo menos por enquanto. Então o caminho é buscar alternativas, e me tornei servente até a chuva encher de novo esse rio.”
 
Em locais onde os barcos a motor entravam da margem para seguir até a parte central do rio restaram apenas alguns filetes de água. Por isso, a navegação agora só é feita por meio das canoas. “Não há condições de entrar com o barco. O motor bate no solo por não ter mais água. Há alguns anos o rio quase transbordava na ponte que tem dez metros de altura. Da pesca está difícil de viver”, afirma a secretária municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Luiza Augusta Garcia Leão.
 
Iguatama (Foto: G1 MG) 
 
O representante da Colônia dos Pescadores Profissionais de Iguatama, Geraldo Pereira da Costa, de 71 anos, mostrou (veja vídeo ao lado) por onde já passou de canoa no rio – que hoje só tem árvores e terra seca. Há três anos, segundo ele, que a marginal que sustenta o rio não enche como antes. "Já andei de canoa em toda a extensão do rio e agora só tem terra. É claro que veio secando gradativamente, e essa seca não é só deste ano, apesar de ter sido a pior de todas. Isso é um reflexo de cerca de dez anos de estiagem, mas volto a dizer, seca assim eu nunca vi em 30 anos de profissão", conta.

Questionado sobre o que ele sente ao ver a situação do rio, o pescador se emociona e mostra a lagoa que sustentava o nível do Rio São Francisco. Hoje ela não existe mais. "Eu me sinto emocionado porque eu tirei sustento para minhas filhas desse rio. É preciso preservar, pois como que pode o São Francisco se alimentar das marginais se elas estão secas? Não tem jeito. O São Francisco vai secar, o Velho Chico vai morrer."


A rotina dos pescadores de Iguatama começa cedo em épocas normais de rio cheio – às 4h eles saem de casa. Antes, era possível pescar de 30 a 40 peixes num dia de trabalho. Agora quase não se pesca um. "Não passa disso. Um dia inteiro para pegar um peixe, e tem dias que nem isso consigo", lamenta Francisco Romoaldo.

Ficha - especial seca - Iguatama (MG) (Foto: G1)
O pescado é vendido na cidade, e cada pescador é responsável pela própria renda. Espécies como curimatã e piau são vendidas a R$ 15 o quilo. Cada peixe tem pesado, em média, oito quilos e, no fim do dia, Romoaldo recebe R$ 120.
Segundo os pescadores, os peixes mais caros no mercado da cidade são o surubim e o dourado, custando R$ 25 o quilo de cada um. Contudo, eles não encontram mais essas espécies no rio. “O que a gente acha é curimatã e piau, e quando acha. Além do mais, esses peixes têm normalmente 12 quilos, mas com a seca estamos achando de oito quilos. Isso é reflexo da falta de reprodução e de alimentos para o crescimento das espécies”, afirma Pedro Henrique.
Por se tratar da principal atividade de trabalho do município, os pescadores que comprovam viver da pesca e que são associados à Colônia de Pescadores Profissionais recebem uma espécie de seguro-desemprego entre novembro e março, quando ocorre a desova dos peixes, chamada de piracema. Eles param as atividades e recebem um salário mínimo por mês, segundo a secretária de Agricultura e Meio Ambiente. “O governo paga esse valor a eles para que os peixes possam se reproduzir sem interferência humana. Mas, para isso, o pescador precisa provar por meio de notas fiscais que vive da pescaria”, explica o representante da Colônia dos Pescadores.
Pescadores pedem conscientização no uso d emotores com 14 cavalos de potência (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)Pescadores afirma que barcos potentes prejudicam o rio (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Assoreamento
Além da seca, os pescadores apontam os barcos com motor de potência superior a 15 cavalos como responsáveis pelo assoreamento e baixo nível da água no rio, causadores da falta de peixes. Por isso, pedem a colaboração de quem usa esse tipo de motor. "Quando esses barcos entram na água, eles fazem ondas que sobem mais de dois metros e, na volta, trazem a terra da margem para dentro do rio, o que provoca o assoreamento e prejudica o esconderijo dos peixes, que são os buracos feitos no fundo do rio", diz o representante dos pescadores de Iguatama, Geraldo Pereira da Costa.
Dessa maneira, os peixes se tornam presas fáceis para os predadores e, inclusive, para o homem. "Somos pescadores e queremos os peixes, é fato. Mas o problema disso é que os amadores se aproveitam e pescam as espécies pequenas. Não há tempo para esses peixes crescerem e muito menos para se reproduzirem e gerar uma maior quantidade", explica.
Além disso, o movimento dos motores desses barcos desloca as figueiras, árvores de até 15 metros, comuns na mata ciliar e que protegem o curso do Velho Chico. "O motor bate na base dessas árvores, que acabam despencando. Portanto, o que é proteção na margem também acaba desaparecendo. São inúmeros os problemas causados por esses motores de alta capacidade. Nós, pescadores, geralmente usamos barcos com quatro cavalos, então seria viável que as outras pessoas também adotassem essa mesma potência", afirma.
Nível do Rio ultrapassava base da ponte (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)Há três anos nível do rio ultrapassava base da ponte (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Enquanto a chuva não vem

Para amenizar os efeitos da seca, a prefeitura tem realizado o abastecimento do município por rodízio. Se antes os moradores tinham água em casa durante todo o dia, agora ela só chega à noite. Isso porque a vazão dos cinco poços artesianos em operação, que abastecem a cidade, era de 40 metros cúbicos por hora e, hoje, a média não chega a 15, segundo dados do chefe de gabinete, Alírio Muniz Leão.

"As máquinas dos poços trabalham para encher os reservatórios e, quando já estão cheios, liberam a água para a população. Anteriormente, quatro horas eram necessárias para atingir o limite de água. Hoje as máquinas trabalham 16 horas para tentar encher os reservatórios e ainda não são suficientes", afirma Leão.
 
Apelo
Na cidade, o carro de som de Gustavo Barbosa Siqueira circula nas vias pedindo que os moradores economizem água. Também são feitos anúncios em rádio com o mesmo apelo. Ainda assim, Gustavo conta que continua vendo atitudes lamentáveis. "Vejo as pessoas varrendo as calçadas com água da mangueira e lavando carros. É realmente lamentável, pois elas só terão consciência desse problema quando não sair nenhuma gota das torneiras."

Ainda como medida preventiva, o chefe de gabinete da prefeitura informou que estão sendo furados dois poços artesianos, cada um com 120 metros de profundidade. Um deles está em fase de licenciamento ambiental e o outro em liberação de outorga, o direito de uso de recursos hídricos. Além disso, o município tem dois caminhões-pipa, sendo um deles exclusivamente para atender a zona rural.
Em caso de escassez total da água, a cidade não tem onde recorrer. "Ninguém pensou nisso ainda e nem pensa. O subsolo da região é muito rico em água e esse é um caso inédito e totalmente atípico. Estamos confiantes de que a chuva vai chegar e nos abençoar", diz Alírio Leão.

AGRADECIMENTO A GLOBO.COM PELA EXCELENTE MATÉRIA!!!