Fonte: National Geografic Brasil
Um apocalipse geomagnético pode não estar próximo, mas existe uma ciência fascinante por trás da propaganda do fim do mundo.
Muitas
vezes na história do nosso planeta, os polos magnéticos da Terra se inverteram.
Isso significa que uma bússola que aponta para o norte estaria apontando para a
Antártida e não para o Ártico. Isso pode parecer estranho, mas é uma
peculiaridade relativamente previsível. Movido pelas alterações do núcleo de ferro
e da rotação da Terra, esse processo de inversão geomagnética tem feito o seu
trabalho sem muita fanfarra por eras.
Isso
é, até essa semana, quando um trecho de um livro descrevendo esse fenômeno
apareceu online. Pouco tempo depois, vários websites começaram a anunciar que o
fim do mundo estava chegando, um apocalipse geomagnético no qual tumores
aparecem desenfreados, satélites caem do céu e a vida na Terra como conhecemos
deixa de existir.
Verdade.
Quase certeza que a vida na Terra será diferente do que conhecemos hoje em
vários milhares de anos. Mas esses polos acrobáticos têm muito a ver com isso?
Primeiro,
as coisas mais importantes: todos nós vamos morrer?
Sim. Calma,
calma!
Eventualmente,
todos nós vamos morrer. Mas é provável que não morramos imediatamente, ou em um
futuro próximo, quando a próxima inversão geomagnética da Terra acontecer.
Beleza.
Então o que é uma inversão geomagnética?
Se a
história geológica se repetir, os polos magnéticos da Terra devem eventualmente
trocar de lugares. Isso é inegável. Baseado nos vestígios magnéticos deixados
em rochas antigas, sabemos que nos últimos 20 milhões de anos, o norte e o sul
magnético se inverteram aproximadamente a cada 200 e 300 mil anos (no entanto,
essa taxa não é constante para toda a existência do planeta). A última dessas
grandes inversões ocorreu há 780 mil anos, apesar de os polos passearem sem
rumo entre essas grandes inversões.
Isso
significa que estamos um pouco atrasados para uma inversão completa e alguns
dados sugerem que uma inversão geomagnética é geologicamente iminente. Mas isso
não quer dizer que uma inversão polar vai acontecer amanhã ou em um futuro
próximo. E poderíamos apostar muito dinheiro que, por enquanto, o norte ainda
aponta para o Ártico, apesar de nenhum de nós saber quando acontecerá a próxima
inversão completa.
Tudo
bem. Mas se acontecer logo, isso não será ruim?
Isso
também não é claro. Cientistas estimam que as inversões polares anteriores
foram lentas, com o norte e o sul migrando para as posições opostas durante cem
anos. Isso é bom e ruim se você está preocupado em como uma inversão
geomagnética irá afetar a vida na Terra.
A
lenta inversão polar é boa porque isso significa que temos tempo para nos
preparar e podemos fazer o nosso melhor para aperfeiçoar quaisquer efeitos
desagradáveis antes deles realmente ficarem desagradáveis. Mas é ruim, porque o
campo magnético do nosso planeta ajuda a nos proteger de prejudiciais radiações
solares e cósmicas e uma inversão demorada significa que a Terra pode estar
levemente menos protegida contra os nocivos raios espaciais por mais tempo do
que gostaríamos.
Não é
também nada muito dramático porque isso não significa que, de repente, você irá
acordar e descobrir que o seu smartphone ache que a fábrica do Papai Noel é no
Hemisfério Sul.
Que
pena, isso parece chato. Então o que vamos realmente perceber?
O
único grande efeito notável que certamente ocorrerá é que quando a inversão
polar terminar, a agulha de sua bússola lhe dirá que o Norte é na Antártida e o
Sul é em algum lugar perto do Canadá. Isso fará com que os nomes dos
continentes americanos sejam temporariamente confusos (pelo menos, em uma
escala de tempo geológico), mas será uma boa história para contar nas salas de
aula.
Outra
consequência interessante será que animais que usam o campo magnético da Terra
para se locomover, como aves, salmões e tartarugas-marinhas, poderiam se perder
durante viagens de rotina.
Eventualmente, eles irão organizar tudo e, assim como todas as outras
coisas, a vida continuará. Muitos profetas do fim do mundo tentaram comparar as
inversões geomagnéticas com as extinções em massa, mas os dados não são os
mesmos.
Então
não tem nada com que se preocupar?
Não
exatamente. É verdade que quando os polos se invertem, o campo magnético da
Terra pode ficar mais fraco, mas a sua força já é bem variável, então isso não
é necessariamente incomum e, de acordo com a Nasa, não tem nenhuma indicação de
que a Terra desaparecerá por completo. Por quê? Porque isso nunca aconteceu.
No
entanto, se o campo magnético ficar substancialmente mais fraco e ficar dessa
maneira por um período significativo, a Terra estará menos protegida de
numerosas partículas de alta energia que estão constantemente voando ao redor
no espaço. Isso significa que tudo no planeta será exposto a altos níveis de
radiação, o que com o tempo poderia produzir um aumento de doenças como o
câncer, assim como danificar espaçonaves e redes elétricas na Terra.
Essas
são as consequências para as quais podemos nos preparar, e no que diz respeito
a tudo abaixo da estratosfera, nós teremos uma atmosfera boa e espessa que
também nos ajudará, agindo como um escudo.
Por
enquanto, estamos fazendo um ótimo trabalho ao lançar toxinas carcinogênicas no
meio ambiente e alterar a forma que os ecossistemas normalmente funcionam,
então tem coisas piores com o que se preocupar a curto prazo.
Dito
isso, um bônus de ter um campo magnético mais fraco é que as auroras serão visíveis
de latitudes muito menores – o céu noturno será muito mais épico.