sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Não, nós não corremos perigo com a inversão do campo magnético da Terra

Fonte: National Geografic Brasil

Um apocalipse geomagnético pode não estar próximo, mas existe uma ciência fascinante por trás da propaganda do fim do mundo. 


Muitas vezes na história do nosso planeta, os polos magnéticos da Terra se inverteram. Isso significa que uma bússola que aponta para o norte estaria apontando para a Antártida e não para o Ártico. Isso pode parecer estranho, mas é uma peculiaridade relativamente previsível. Movido pelas alterações do núcleo de ferro e da rotação da Terra, esse processo de inversão geomagnética tem feito o seu trabalho sem muita fanfarra por eras.

Isso é, até essa semana, quando um trecho de um livro descrevendo esse fenômeno apareceu online. Pouco tempo depois, vários websites começaram a anunciar que o fim do mundo estava chegando, um apocalipse geomagnético no qual tumores aparecem desenfreados, satélites caem do céu e a vida na Terra como conhecemos deixa de existir.

Verdade. Quase certeza que a vida na Terra será diferente do que conhecemos hoje em vários milhares de anos. Mas esses polos acrobáticos têm muito a ver com isso?

Primeiro, as coisas mais importantes: todos nós vamos morrer?

Sim. Calma, calma!

Eventualmente, todos nós vamos morrer. Mas é provável que não morramos imediatamente, ou em um futuro próximo, quando a próxima inversão geomagnética da Terra acontecer.

Beleza. Então o que é uma inversão geomagnética?

Se a história geológica se repetir, os polos magnéticos da Terra devem eventualmente trocar de lugares. Isso é inegável. Baseado nos vestígios magnéticos deixados em rochas antigas, sabemos que nos últimos 20 milhões de anos, o norte e o sul magnético se inverteram aproximadamente a cada 200 e 300 mil anos (no entanto, essa taxa não é constante para toda a existência do planeta). A última dessas grandes inversões ocorreu há 780 mil anos, apesar de os polos passearem sem rumo entre essas grandes inversões.

Isso significa que estamos um pouco atrasados para uma inversão completa e alguns dados sugerem que uma inversão geomagnética é geologicamente iminente. Mas isso não quer dizer que uma inversão polar vai acontecer amanhã ou em um futuro próximo. E poderíamos apostar muito dinheiro que, por enquanto, o norte ainda aponta para o Ártico, apesar de nenhum de nós saber quando acontecerá a próxima inversão completa.

Tudo bem. Mas se acontecer logo, isso não será ruim?

Isso também não é claro. Cientistas estimam que as inversões polares anteriores foram lentas, com o norte e o sul migrando para as posições opostas durante cem anos. Isso é bom e ruim se você está preocupado em como uma inversão geomagnética irá afetar a vida na Terra.

A lenta inversão polar é boa porque isso significa que temos tempo para nos preparar e podemos fazer o nosso melhor para aperfeiçoar quaisquer efeitos desagradáveis antes deles realmente ficarem desagradáveis. Mas é ruim, porque o campo magnético do nosso planeta ajuda a nos proteger de prejudiciais radiações solares e cósmicas e uma inversão demorada significa que a Terra pode estar levemente menos protegida contra os nocivos raios espaciais por mais tempo do que gostaríamos.
Não é também nada muito dramático porque isso não significa que, de repente, você irá acordar e descobrir que o seu smartphone ache que a fábrica do Papai Noel é no Hemisfério Sul.

Que pena, isso parece chato. Então o que vamos realmente perceber?

O único grande efeito notável que certamente ocorrerá é que quando a inversão polar terminar, a agulha de sua bússola lhe dirá que o Norte é na Antártida e o Sul é em algum lugar perto do Canadá. Isso fará com que os nomes dos continentes americanos sejam temporariamente confusos (pelo menos, em uma escala de tempo geológico), mas será uma boa história para contar nas salas de aula.

Outra consequência interessante será que animais que usam o campo magnético da Terra para se locomover, como aves, salmões e tartarugas-marinhas, poderiam se perder durante viagens de rotina.  Eventualmente, eles irão organizar tudo e, assim como todas as outras coisas, a vida continuará. Muitos profetas do fim do mundo tentaram comparar as inversões geomagnéticas com as extinções em massa, mas os dados não são os mesmos.

Então não tem nada com que se preocupar?

Não exatamente. É verdade que quando os polos se invertem, o campo magnético da Terra pode ficar mais fraco, mas a sua força já é bem variável, então isso não é necessariamente incomum e, de acordo com a Nasa, não tem nenhuma indicação de que a Terra desaparecerá por completo. Por quê? Porque isso nunca aconteceu.

No entanto, se o campo magnético ficar substancialmente mais fraco e ficar dessa maneira por um período significativo, a Terra estará menos protegida de numerosas partículas de alta energia que estão constantemente voando ao redor no espaço. Isso significa que tudo no planeta será exposto a altos níveis de radiação, o que com o tempo poderia produzir um aumento de doenças como o câncer, assim como danificar espaçonaves e redes elétricas na Terra.

Essas são as consequências para as quais podemos nos preparar, e no que diz respeito a tudo abaixo da estratosfera, nós teremos uma atmosfera boa e espessa que também nos ajudará, agindo como um escudo.

Por enquanto, estamos fazendo um ótimo trabalho ao lançar toxinas carcinogênicas no meio ambiente e alterar a forma que os ecossistemas normalmente funcionam, então tem coisas piores com o que se preocupar a curto prazo.


Dito isso, um bônus de ter um campo magnético mais fraco é que as auroras serão visíveis de latitudes muito menores – o céu noturno será muito mais épico.

Batalha fatal entre cobra-real e píton termina em um nó

Fonte: National Geografic Brasil

Uma foto viral, provavelmente feita no sudeste da Ásia, mostra um encontro raro. 


Recentemente, uma batalha letal entre duas titãs escamosas terminou em empate, deixando para trás uma cena retorcida e apavorante. Uma das combatentes, uma cobra-rei, foi estrangulada. A segunda, uma píton-reticulada, também foi morta. Mordida atrás da cabeça pela cobra-rei e sofrendo por causa do veneno mortal da cobra, a píton tentou defender a sua vida estrangulando a sua agressora até a morte. Deu certo.
Mas nenhuma das duas sobreviveu.
“É uma loucura, mas é algo que eu poderia ver acontecer facilmente. É um mundo perigoso lá fora, comer outras cobras grandes e coisas que poderiam matar você”, disse Coleman Sheehy, do Museu de História Natural da Flórida. Ele disse que o conflito mortal provavelmente aconteceu no sudeste da Ásia, onde as duas espécies de cobra dividem habitat.
Ambas as cobras são supremas entre as parentes rastejantes, e como às vezes acontece com esses seres, uma foto dos corpos acabou no Facebook. Uma vez postada, a imagem rapidamente atraiu a atenção de herpetólogos e de outras pessoas chocadas com aquela imagem incomum (todos conhecemos o ouroboros, um símbolo que mostra uma serpente mordendo a sua própria cauda, mas quem já viu uma píton morta enrolada em uma cobra-rei morta?).  “Parece real, não parece que tem Photoshop nem nada”, disse Frank Burbrink, do Museu Americano de História Natural. “É um encontro estranho, mas muitas coisas que acontecem com cobras nunca são fáceis de se ver.”

Mistura letal

Isso é verdade até quando duas espécies gigantes de cobras estão envolvidas.
Cobras-rei são as maiores cobras venenosas do mundo – algumas medem 5,4 metros. E, como o nome do gênero Ophiophagus sugere, cobras-rei são especialistas em comer outras cobras. Quando essas cobras atacam, elas miram na base da cabeça de suas vítimas e então as matam ao injetar um coquetel venenoso, que rapidamente paralisa o sistema nervoso e as presas das vítimas.
“Elas podem muito bem derrotar a maioria das cobras que encontram,” disse Sheehy.
Pítons-reticuladas, por sua vez, são as maiores cobras do mundo – algumas ultrapassam 9 metros de comprimento. Elas usam os músculos para estrangular as refeições, que normalmente são mamíferos e não outras cobras. “Se teve um evento predatório aqui, foi a cobra-rei em cima da píton”, disse Burbrink. “E não deu certo para nenhuma das duas.”

Selvagem?

Não está claro o quão frequente são esses conflitos entre cobras grandes na natureza. E Burbrink não tem muita certeza de que essa luta até a morte tenha resultado de um encontro natural.
“Sabemos que cobras-rei comem outras cobras, mas nunca se sabe se as pessoas estão fazendo coisas idiotas para armar tudo isso”, disse Burbrink. “As pessoas criam cobras-rei e pensam: ‘Vamos ver o que acontece se eu colocar essas duas cobras em uma pequena vala.’ Pode-se ver que há barrancos em ambos lados [na foto] e elas podem ter se enfrentado ali mesmo, mas isso poderia ter acontecido na natureza também. Eu queria ter estado lá para ver isso.” Mas não importa qual foi a origem, parece que a sequência dos eventos é clara neste caso. A cobra-rei tentou morder um pouco mais do que poderia engolir, devido ao grande tamanho de uma píton adulta. E a píton, por sua vez, fez exatamente o que as pítons fazem: ela se enrolou ao redor da cobra-rei e a estrangulou.
No final, infelizmente, o poder da píton não foi o suficiente para vencer o veneno da cobra-rei.
“Isso mataria a píton muito rápido,” disse Sheehy. “Provavelmente as duas estariam mortas em 30 minutos.”

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Espraiamento Urbano

Espraiamento
Espraiamento (urban sprawl) é o termo usado para a expansão horizontal das cidades, ou espalhamento, muito antes de atingir uma densidade demográfica ideal nas áreas já consolidadas. É assim que nascem os bairros-dormitório, que surgem a uma maior distância do centro do que o resto da cidade. Futuramente, esses bairros podem até se tornar cidades-dormitório.
Nos anos 60 e 70, as periferias dos grandes centros urbanos brasileiros cresceram de forma descontrolada, expandindo o tecido urbano. É lá que foram morar os mais pobres, longe de seus empregos e muitas vezes em áreas de risco à ocupação. Isso gera uma grande demanda por serviços, que ficam sem atendimento. Quando as áreas centrais valorizam demais, o preço do metro quadrado fica caro para a população mais pobre, que busca novos espaços.
Em cidades grandes, é comum que pessoas que atingem um certo poder aquisitivo se mudem de suas casas na cidade para bairro distantes, fora da malha urbana, em condomínios onde antes era uma zona rural. Esses condomínios garantem sossego, mas contribuem para  o crescimento horizontal que pode ser danoso ao equilíbrio da cidade, uma vez que gera grandes deslocamentos em áreas de poucos serviços públicos e estimula a mobilidade individual.
Tanto a verticalização, quanto o espraiamento de uma cidade podem ser vantajosos ou onerosos, dependendo da origem do fenômeno, sua velocidade, seu controle e principalmente sua contribuição para a dinâmica da cidade. A maneira como a cidade é planejada, tanto urbanisticamente quanto em sua mobilidade, tem impacto direto nesses dois fenômenos. Veja aqui outros termos arquitetônicos explicados em nosso glossário.

terça-feira, 14 de março de 2017

Os 10 temas de Geografia que você precisa entender

Por: mundovestibular.com.br

Temas de Geografia

A Geografia é uma disciplina abrangente que envolve conteúdos relacionados a atualidades, como a chuva ácida, o clima, a vegetação, as regiões do país, os acontecimentos mundiais, entre outros assuntos. Devido a isso, a Geografia é cobrada nos vestibulares e no ENEM em questões interdisciplinares. A Geografia pode ser uma das matérias mais complicadas para os alunos no vestibular e no ENEM, pois envolve muitos assuntos.





10 TEMAS QUE VOCÊ PRECISA SABER! 







1. Relevo

É importante que os alunos tenham conhecimento sobre os processos de formação do relevo e quais são os principais tipos de relevo do Brasil. É necessário também ter conhecimento sobre como se deu a formação dos planaltos e montanhas. É necessário abordar ainda a ocupação do espaço geomorfológico brasileiro e as suas consequências.

2. Globalização

No assunto da globalização deve-se estar atento à internacionalização das relações econômicas entre os países, apoiadas nas novas tecnologias de comunicação e transporte. Esse processo de globalização é relacionado com o tipo de economia de cada país.

3. Urbanização

O tema referente à urbanização abrange assuntos relacionados ao crescimento da área urbana das cidades brasileiras aliado à falta de estrutura para receber esse grande contingente populacional, o que leva a problemas ambientais e sociais.

4. Energia Elétrica

São diversos os processos para a produção de energia no Brasil. É importante que os estudantes saibam quais são os principais tipos de fontes de energia que participam da matriz energética brasileira, como a eólica, a hidráulica, a biomassa, a solar e a das marés. É necessário conhecer as características dessas fontes de energia, saber como cada uma delas é obtida e quais são as consequências do uso destas para o meio ambiente.

5. Problemas Ambientais

Problemas ambientais são assuntos abordados com grande frequência no ENEM e nos vestibulares, não somente em questões relacionadas à disciplina de geografia, mas em todas as áreas do conhecimento. Isso ocorre porque esse é um assunto atual que envolve diversas potências mundiais. É importante que os alunos entendam quais são as causas e consequências dos problemas ambientais para os seres humanos. É aconselhável ainda que os estudantes conheçam os acordos feitos para tentar amenizar os problemas ambientais, como o Rio +10 e o Protocolo de Kyoto.

6. Clima

Elementos climáticos (como pressão atmosférica, umidade, temperatura, fatores que determinam o clima, mudanças climáticas e as suas consequências) são assuntos cobrados com frequência nos vestibulares e no ENEM. É importante também que o aluno esteja por dentro de temas como o aquecimento global e a camada de ozônio, tendo ideia de como eles podem afetar o clima mundial.

7. Teorias Demográficas

Saber quais são as teorias demográficas Malthusiana, Neomalthusiana e Reformista e as principais características delas é o gancho para este assunto. Além disso, recomenda-se conhecer os erros das teorias demográficas e a volta da Teoria Malthusiana após a segunda guerra mundial. Podem aparecer questões que relacionam passagens do livro “O Inferno”, de Dan Brown, pois a obra discorre sobre a população.

8. Migrações Internacionais

Esse é um assunto que exige cuidado, pois confunde os alunos e pode ser abordado de diversas maneiras. Esse tema inclusive já foi cobrado na redação do ENEM. Conhecer os novos fluxos migratórios, a motivação econômica e política destes migrantes, saber o que é xenofobia e como ela ocorre são os principais temas desta área. Pode ser abordada também a rota feita pelos haitianos para o Brasil, que é utilizada por migrantes de outras nacionalidades.

9. Solos

formação dos solos é um processo que deve ser entendido tanto no contexto da ação do intemperismo químico quanto do físico, no que diz respeito à formação do relevo. Faz-se necessário entender, também, como a decomposição e o desgaste das rochas auxilia na formação dos solos. Em relação ao uso dos solos, os alunos devem saber quais são as formas sustentáveis de produção agrícola e quais causam degradação (como o agronegócio).

10. Recursos Hídricos

Saber que as áreas sedimentares, as regiões tropicais e as bacias hidrográficas são consideradas áreas estratégicas para o aproveitamento da agricultura em áreas secas através da irrigação, para a produção de energia renovável e para o transporte, na tentativa de reduzir seus os custos e aumentar a competitividade dos produtos agrícolas são os temas mais cobrados neste assunto.


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Muitas outras matérias e textos interessantes também aqui no blog, desbrave, descubra e seja um sujeito com visão crítica sobre as nuances do espaço geográfico.




sexta-feira, 10 de março de 2017

As variadas formas de relevo de maneira explicativa e visual

Matéria extraída do site: geografiaescolar

As vezes nos deparamos no estudo das formas de relevo e diante de várias formações geomorfológicas, às vezes confundimos o que é uma planície, uma serra, um meandro, etc... Por conta dessa inúmera quantidade de formas de relevo, essa matéria visa esclarecer as diferenças entre as principais formações físicas do relevo da superfície do nosso planeta.

Aproveite!




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Telescópio da NASA descobre um sistema solar com sete planetas como a Terra

Fonte: Jornal El País


Segundo pronunciamento da NASA, em todos os planetas há condições para abrigar vida.



Uma equipe internacional de astrônomos descobriu um novo sistema solar com sete planetas do tamanho da Terra. Está a cerca de 40 anos luz de nós, orbitando em torno de uma estrela anã e fria, de um tipo de astro conhecido como "anões vermelhos". Na Via Láctea, este tipo de astro é muito mais abundante que as estrelas como o Sol e, recentemente, se tornaram o lugar preferido pelos astrônomos para procurar planetas semelhantes à Terra onde possa ser encontrada vida, segundo explicaram os cientistas da NASA, durante uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira. "A questão agora não é como se encontraremos um planeta como a Terra, mas quando", disseram.
O novo sistema solar orbita em torno da estrela Trappist-1, um astro do tamanho de Júpiter encontrado na constelação de Aquário. No ano passado, uma equipe internacional de astrônomos achou três planetas orbitando este astro, com tão somente 8% da massa do Sol. Em um novo estudo publicado hoje na revista Nature, a mesma equipe confirma a existência desses três planetas e anuncia outros quatro. Todos os sete planetas tem o tamanho similar ao da Terra, mas estão muito mais próximos à sua estrela, o que permitiria que abrigassem água líquida, condição essencial para a vida, segundo um comunicado oficial do Observatório Europeu do Sul (ESO).
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Em fevereiro e março de 2016 os astrônomos usaram o telescópio espacial Spitzer, da NASA, para captar as minúsculas flutuações na luz do astro que são produzidas quando os planetas passam na frente de sua estrela. Telescópios terrestres no Chile, África do Sul, Marrocos, Estados Unidos e Ilha de La Palma, nas Canárias, direcionaram também suas lentes para a Trappist-1 entre maio e setembro. As observações confirmam a existência de seis planetas, Trappist-1 bcdef e g, conforme sua proximidade decrescente do astro, e sugerem a existência de um sétimo, h, ainda não confirmado. Os seis planetas confirmados parecem ser rochosos, como a Terra, Marte, Vênus e Mercúrio, embora alguns possam ser muito menos densos. A Trappist-1 e seus mundos se parecem muito com Júpiter e suas luas geladas Io, Europa, Ganimedes e Calisto, algumas também propensas a abrigar vida.
“É um sistema planetário alucinante, não só por haver tantos, mas porque seu tamanho é surpreendentemente semelhante ao da Terra”, diz Michaël Gillon, pesquisador da Universidade de Liège (Bélgica) e principal autor do estudo.
O planeta mais perto de seu sol leva um dia para completar uma órbita, e o mais distante, 12. Os três primeiros estão perto demais da estrela, o que faz com que provavelmente tenham climas abrasadores em excesso para que a água não evapore de sua superfície, segundo os modelos climáticos usados pelos astrônomos. É provável que h, com um tamanho mais parecido com os de Vênus e Marte, seja um mundo gelado por causa de sua distância da estrela. Os três planetas restantes estão dentro da chamada “zona habitável” e podem abrigar oceanos, segundo o estudo.
O mais importante desta descoberta é que pode permitir observar pela primeira vez a atmosfera de um desses planetas, explica Guillem Anglada-Escudé, astrônomo de Barcelona que trabalha na Universidade Queen Mary, de Londres. Trata-se de uma conquista científica que bem vale um Nobel e é um dos passos prévios fundamentais na busca de vida fora do Sistema Solar. No ano passado, Anglada-Escudé descobriu o exoplaneta de tamanho terrestre mais próximo da Terra, a quatro ano-luz.

Observar a atmosfera


Este mundo também orbita em torno de uma anã vermelha, Próxima Centauri, e pode estar coberto por um grande oceano. Ainda está para ser visto se tem atmosfera, condição quase essencial para a vida, e se esta é observável da Terra. Nos planetas da Trappist-1 “é possível que o telescópio espacial Hubble possa analisar se há atmosfera em algum desses planetas e é bastante provável que o Telescópio Espacial James Webb, que será lançado no próximo ano, possa confirmar isso”, explica o astrônomo.
Embora não possam ser vistas a olho nu da Terra, três de cada quatro estrelas em nossa galáxia são anãs vermelhas, por isso é possível que descobertas como a desta quarta-feira se transformem na norma. O nome da estrela corresponde ao acrônimo Telescópio Pequeno para Planetas em Trânsito e Planetesimais (Trappist), um sistema de dois observatórios robóticos da Universidade de Liège que está rastreando as 60 estrelas anãs frias mais próximas da Terra em busca de planetas habitáveis. Calcula-se que para cada planeta que se consegue detectar com este método haja “entre 20 e 100 vezes mais planetas”, explica Ignas Snellen, da Universidade de Leiden (Holanda), em um comentário ao artigo original publicado na Nature.

Por isso esse achado deve ser um lembrete para os terráqueos de que não há razões objetivas para se sentirem especiais. “Encontrar sete planetas em uma amostra [de estrelas analisadas] tão pequena sugere que o Sistema Solar com seus quatro planetas rochosos pode não ser nada fora do normal”, escreve o pesquisador em um comentário ao artigo original na Nature. Esses planetas podem abrigar vida? Impossível saber disso no momento, diz Snellen, mas “uma coisa é certa: em alguns bilhões de anos, quando o Sol tiver esgotado seu combustível e o Sistema Solar deixar de existir, a Trappist-1 continuará sendo uma estrela em sua infância. Consome hidrogênio tão devagar que continuará viva uns 10 trilhões de anos, 700 vezes mais que a idade total do Universo e, possivelmente, isso é tempo suficiente para que a vida evolua”, conclui.

NÚMEROS QUASE PERFEITOS

O novo sistema solar descoberto na Trappist-1 é extraordinariamente compacto e ordenado. Seus planetas estão em um mesmo plano, como ocorre no Sistema Solar. Além disso, suas órbitas seguem um ritmo periódico e o tempo que levam para completá-las pode ser expresso em frações simples, por exemplo, 8/5 para os planetas c e b ou 5/3 para d e c. Cada planeta influi com sua gravidade na órbita do que está mais próximo dele.
Estas pequenas distorções serviram para calcular a massa dos seis planetas confirmados e indicam que, em sua origem, formaram-se longe da estrela e depois migraram na direção dela. Isso poderia significar uma forma alternativa de criar planetas rochosos que não se parece com a que conhecemos no Sistema Solar. Nas luas de Júpiter, essas distorções fazem com que as luas conservem calor interno e tenham vulcanismo, como Io, ou possíveis oceanos, como Europa. Em 2013 foi descoberto um sistema de seis planetas, três deles habitáveis, em torno da Gliese 667C, a 22 anos-luz da Terra, embora somente dois deles estejam 100% confirmados. O que torna única a descoberta revelada hoje é que pelo menos seis de seus planetas transitam diante de sua estrela, o que permitirá analisar sua atmosfera, se é que a possuem.



domingo, 13 de dezembro de 2015

Elevação dos mares ameaça inundar as ilhas baixas de Kiribati

Os moradores da nação insular lutam para manter à tona seu lar e seu modo de vida

Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ONLINE   |   Por: Kennedy Warne
 
Era bem na hora chamada de itingaaro, o “crepúsculo do amanhecer”, que a ilha acordava. Os galos competiam para ver quem cantava mais alto e as grazinas trocavam gorjeios de amor nas árvores de fruta-pão. As pessoas iam sonolentas até a laguna para se lavar, jogavam água no rosto e então ajustavam seus sarongues e mergulhavam.
A maré estava cheia e retesada como a pele de uma mulher grávida. Ao fim da laguna, o mar se estendia até o horizonte. Marawa, karawa, tarawa – mar, céu, terra. Essa é a imemorial trindade do povo de Kiribati, os I-Kiribatis. A trindade, porém, está se desequilibrando. Mãe Oceano não é o coração da providência que o povo sempre conheceu. Começa a mostrar uma face diferente, de marés usurpadoras e ondas violentas.
Os I-Kiribatis hoje vivem com o medo da subida do marawa. É época de bibitakin kanoan boong – “mudança no tempo por muitos dias” –, a frase local para alteração climática. O povo convive com o medo e a incerteza dessas palavras.
Como não ter medo quando o mundo vive lhes dizendo que países em ilhas baixas como o deles logo estarão submersos? Seus próprios líderes declararam que Kiribati – 33 ilhas de coral em um trecho do Pacífico Central mais vasto que a Índia – está “entre os vulneráveis dos vulneráveis”. Para eles, Tarawa, o atol onde fica a capital do país, estará inabitável em uma geração.
No entanto, muitos I-Kiribatis se recusam a pensar em sua terra natal como uma “nação insular em desaparecimento”, cujo destino já está fora do alcance deles. Não querem se considerar “ilhéus náufragos”, em vez de descendentes de viajantes, herdeiros de uma altiva tradição de resistência e adaptação. Não acreditam que seu paraíso esteja perto de ser perdido.
Intruso indesejável
MAS CERTAMENTE ESTÁ SOFRENDO. O mar aos poucos se torna um intruso indesejável, erode o litoral, se infiltra nos solos, torna salobra a água dos poços e mata plantações e árvores. Para serem férteis, atóis como o Tarawa dependem de um lençol de água doce que flutue sobre um aquífero de água salgada e seja reabastecido pela chuva. Conforme o nível do mar se eleva – alguns milímetros por ano, hoje em dia, mas provavelmente o processo está em aceleração – também sobe o nível da água salgada no subsolo e encolhe a quantidade de água doce aproveitável. “Agora, odiamos o mar”, me diz Henry Kaake, quando nos sentamos em sua kiakia, uma cabana com os lados abertos, construída sobre palafitas, usada para dormir e conversar com amigos. “O mar é bom porque nele conseguimos nosso alimento, mas um dia ele vai roubar nossa terra.”
Uma das primeiras vítimas da salinidade invasora é o bwabwai, o alimento prestigioso da cultura local, a comida das festas – um tubérculo gigante que cresce em alagados e pode demorar mais de cinco anos para amadurecer. Algumas variedades chegam quase à altura do ombro de uma pessoa. Sensível à intrusão da água salgada nos fossos em que é cultivado, o bwabwai já não pode mais ser plantado em muitas áreas e talvez venha a desaparecer da culinária das ilhas.
Tanques de aquicultura preenchem uma área ao lado do aeroporto Bonriki, em Tarawa, capital de Kiribati. Boa parte do atol está a menos de 2,5 metros acima do nível do mar e em risco de ser alagada com a subida dos mares. - Foto: Kadir van Lohuizen
Governo e organizações de ajuda estão auxiliando os agricultores na adoção do cultivo de outros amiláceos. Em uma horta comunitária em um dos atóis vizinhos de Tarawa, Abaiang, observo Makurita Teakin cortar folhas para transformá-las em cobertura do solo e proteger brotos de uma variedade de taro de raízes pouco profundas, que não necessita de solo alagadiço. Ali perto, outra mulher rega seus brotos com fertilizante de peixe, usando uma lata furada.
A maré escoou nas vastas planícies arenosas da laguna no interior de Tarawa, deixando à mostra uma infinidade de minivulcões de areia feitos por caranguejos ao deixarem suas tocas. Adultos e crianças, munidos de sacos plásticos e baldes, escavam a areia com os dedos e raspam fendas nas rochas com colherinhas: procuram mariscos – chamados ali de koikoi – e lesmasdo-mar. Os coletores avançam até a orla da água que recua, arqueiam o corpo, sondam e raspam para conseguir seus bocados de frutos do mar.
Se encontrarem mariscos suficientes, poderão prepará-los com creme de coco – cozinhá-los dentro de uma casca de coco na fogueira fumacenta feita com cascas desse fruto. Ah, o coqueiro! Haverá alguma coisa que essa árvore, que eles chamam de nii, não forneça? Cestos, vassouras, madeira de construção, palha de telhado, óleo, licor de tari, sabão, um xarope escuro adocicado, o kamwaimwai. A “árvore do céu”, alguns a chamam. Os I-Kiribatis têm mais de uma dezena de palavras só para designar os estágios da fruta – desde a semente nova, antes da formação da água, até a semente velha, com polpa rançosa.
O apego à tradição é importante para muitos I-Kiribatis. Mwairin Timon está fazendo sennit de coco quando a encontro, sentada em uma velha esteira no lado de fora de sua cabana à beira da laguna. A mulher enrola na palma da mão tufos de fibra de coco em um pedaço de madeira achada na praia. Mais de um ano antes, ela enterrou cascas do fruto na laguna e marcou o lugar com uma rocha. Mil marés fizeram seu trabalho, curando e amaciando as fibras. Agora ela as enrola para fazer uma corda, do mesmo modo que sua avó teria feito, assim como a avó da avó antes dela e todas as gerações passadas até os primeiros colonizadores desses atóis, que aqui desembarcaram há cerca de 3 mil anos.
Nuvens de chuva escurecem e passam por sobre a laguna, bloqueando a vista das ilhotas de Tarawa do Norte, o outro lado do atol. Logo trarão alívio a esse lado, Tarawa do Sul, onde vive metade da população do país em menos de 16 quilômetros quadrados de terra. Por sorte, está previsto que as chuvas aumentarão nas próximas décadas, embora venham com mais força, causando enchentes. Como as reservas de água doce subterrâneas estão comprometidas pela elevação do mar – e, no caso de Tarawa, pela forte pressão populacional –, a captação de água da chuva em telhados poderá ser uma alternativa. Em Abaiang, organizações de ajuda estrangeiras forneceram a algumas comunidades sistemas simples para captar, filtrar, tratar e armazenar a água da chuva. Enquanto houver água doce, é possível lidar com outras mudanças – ao menos por algum tempo. Quanto ninguém sabe.
Os eixos da vida
A maré vira e vem deslizando na direção da praia como uma lâmina de vidro verde, empurrando os coletores de marisco na sua frente. As marés são os eixos da vida em Kiribati. Elas e os movimentos do Sol, da Lua e das estrelas, as direções do vento e das grandes ondas. No passado, quem entendesse esses eixos podia calcular a época de plantar, de pescar, de zarpar nas canoas de embono de 30 metros de comprimento, chamadas baurua. Essa era a álgebra do Pacífico.
Os pescadores sabiam que iscas usar, se deviam pescar de dia ou de noite e a melhor tática para apanhar os peixes: anzol, laço ou rede. As certezas daquele mundo estão ruindo. Locais de pesca antes confiáveis agora resultam em linhas e redes vazias. O aquecimento do mar pode estar impelindo alguns peixes para águas mais frias.
Os recifes de coral também sofrem – e, sabemos, o pior ainda está por vir. Conforme o mar se tornar mais quente e ácido ao longo deste século, a previsão é de que o crescimento dos recifes desacelere e até cesse. O branqueamento dos corais – quando corais estressados expelem as algas simbióticas que lhes dão cor e nutrientes – costumava ocorrer mais ou menos a cada dez anos. Mas agora se tornou mais frequente, e talvez, por fim, passe a acontecer anualmente, ameaçando a sobrevivência dos corais e mergulhando em sombras o arco-íris vivo dos recifes.
O destino dos recifes é também o das ilhas. Para se manter com terra acima da água, as ilhas em atóis dependem de depósitos de sedimentos de coral e outros organismos marinhos – sempre despejados em terra firme por tempestades. São como canteiros de obras: se acaba o material, a construção para. Um recife morto não pode sustentar as ilhas que ele construiu.
Que tipo de mundo é este em que o mar consome sua própria criação?
PARA MUITOS I-KIRIBATIs, parece uma tremenda injustiça sofrerem com problemas climáticos em seu país, já que a culpa não é deles. Desde os anos 1980, líderes do Pacífico repreendem, bajulam, suplicam e tentam envergonhar os principais países responsáveis pela poluição por emissão do gás carbônico que influencia na mudança climática. “As ilhas são formigas e os países industrializados são elefantes”, declarou Teburoro Tito, ex-presidente de Kiribati, falando sobre a contribuição ínfima de seu país para os problemas mundiais com o carbono.
Um aspecto da negligência do mundo rico é especialmente difícil de digerir pelos I-Kiribatis. Esse povo faz questão de respeitar fronteiras. Por tradição, uma pessoa nunca tira um coco de uma árvore que não lhe pertence. Nem sequer pega folhas mortas de fruta-pão para acender a fogueira sem primeiro pedir. Os recifes também tinham fronteiras. As pessoas sempre souberam onde tinham direito de coletar seus alimentos.
Esses protocolos são observados até hoje. Quando saio em companhia de pescadores que viajam de Tarawa para Abaiang, em um dia tão calmo que as nuvens ganham ventres azuis com os reflexos do mar, o capitão desliga o motor de popa em certo recife, e um dos tripulantes joga na água cigarros de pandano feitos a mão, como oferenda e sinal de respeito pelos proprietários do território que estão atravessando.
Quando alguém viaja pela primeira vez a outra ilha, assim que chega anuncia sua presença visitando um lugar sagrado. Faz uma doação de cigarros ou moedas, e o cuidador do local passa areia úmida na face do recém-chegado e amarra um cipó verde em volta de sua cabeça. Depois desse ritual em Abaiang, o cuidador do santuário me disse: “Agora você pertence a esta ilha”.
O que os países ricos sabem sobre respeitar fronteiras? O sentimento de injustiça é generalizado nos atóis em maior risco com a elevação dos mares: Kiribati, Maldivas, Ilhas Marshall, Tokelau e Tuvalu. Saufatu Sopoaga, ex-primeiroministro de Tuvalu, chegou a comparar os impactos da mudança climática a “uma forma lenta e insidiosa de terrorismo contra nós”.
Ainda assim, alguns I-Kiribatis rejeitam a retórica da vitimização e a implicação de que os países do Pacífico são impotentes. “Não somos vítimas”, diz Toka Rakobu, que trabalha em uma agência de turismo em Tarawa. “Podemos fazer alguma coisa. Não seremos um povo derrotado.”
Famílias dos atóis da orla de Kiribati afluem para Tarawa do Sul em busca de emprego e educação, inchando a população, que já passa dos 50 mil habitantes. Muitos migrantes vivem em áreas que inundam nas marés altas - Foto: Kadir van Lohuizen
Ainda assim, não dá para censurar políticos, como o presidente de Kiribati Anote Tong, por fazerem o papel de oprimidos pela conjuntura global. Falar em ilhas afogadas e refugiados do clima fez a fama de Kiribati mundo afora. Jornalistas vão a Tarawa para mandar notícias “da linha de frente da crise da mudança climática”. Suas visitas tendem a aumentar na temporada anual das grandes marés, quando a visão das ondas saltando sobre o quebra-mar é dramática. No começo deste ano, uma maré ergueu uma embarcação naufragada perto dos recifes em Betio, a ilha no extremo oeste de Tarawa, arremessou- a para terra firme e perfurou o quebramar. O barco permanece ali, com seu nome irônico: Tekeraoi, “boa sorte”, estatelado na mesma praia onde barcaças de desembarque americanas encalharam durante a Batalha de Tarawa, em 1943, ocasionando um banho de sangue.
Histórias sobre os tormentos climáticos no Pacífico trouxeram uma maré de solidariedade e dinheiro para ajudar Kiribati e as ilhas vizinhas, mas quem escuta essa mensagem de danação ambiental com tanta frequência pode pensar que o único jeito é ir embora. Hoje em dia, se fala muito em partir. Devemos ficar? Devemos ir? Seremos forçados a nos realocar? Para onde? Nenhum país está abrindo suas portas a refugiados do clima. São questões angustiantes, ainda mais porque falam ao senso de identidade. Na língua kiribati, o termo para “terra” e “pessoa” é o mesmo. Se sua terra desaparece, quem é você?
Por outro lado, os povos do Pacífico são famosos por suas migrações. Afinal de contas, seus ancestrais tinham como lar todo o oceano.
Na mitologia da origem de Kiribati, Nareau, o Criador, era uma aranha, e os I-Kiribatis vêm tecendo teias desde então. Toda família possui parentes na Nova Zelândia, Austrália, Fiji e em terras mais distantes. Cada migração é um fio de seda na teia dos laços familiares.
Alguns têm a expectativa de que os jovens deixarão Kiribati e os velhos permanecerão. Mas alguns dos mais novos escolhem uma vida simples em suas terras ancestrais em vez da busca pela prosperidade no exterior. Mannie Rikiaua, jovem mãe empregada no Ministério do Meio Ambiente de Kiribati, me diz que prefere trabalhar para seu povo a servir em outro país, apesar de seu pai aconselhá-la a imigrar para “um lugar mais alto”. “Uma parte de mim quer partir”, admite ela. Mas acrescenta, como se mais uma vez estivesse tomando a decisão: “Kiribati é o melhor lugar para os meus filhos”.
Tangiram abam
Ela está ouvindo a voz do tangiran abam, me explica, o amor e a saudade que os I-Kiribatis sentem por sua terra natal. O Tangiram abam mantém os atóis mais distantes de Kiribati culturalmente vibrantes, embora suas populações encolham enquanto a de Tarawa cresce. É um impulso que permanece forte. Ouço esse amor pelo lugar no som das pessoas que cantam à noite na laguna. Vejo-o nas danças vivazes dos pequenos estudantes quando imitam os movimentos das aves marinhas. Escuto-o nas palavras de Teburoro Tito quando, em um intervalo das sessões do Parlamento, ele me confessa que, no fundo, é um menino das ilhas: “Eu nasci das areias e dos corais desse lugar. Amo as ilhas e não vejo nenhum outro lar para mim no mundo”. para proteger esse lar do oceano faminto, alguns ilhéus resolveram plantar mangues, cuja matriz de raízes e troncos captura sedimentos e arrefece o ímpeto das ondas. Ajudo algumas mulheres a colher sementes maduras que pendem como vagens em meio às folhas verdes de um mangue crescido. Dias depois, nós as plantamos numa parte da laguna que precisa de proteção contra as marés. Não é grande coisa. Porém, não há muito mais o que os moradores possam fazer para se manter em sua terra além de reconstruir o quebra-mar quando as ondas o destroçam.
O mangue bem que daria um bom símbolo nacional, penso: árvores que resistem a tempestades e mantêm a coesão da terra. O símbolo atual, estampado na bandeira de Kiribati, também é evocativo: o eitei, ou fragata, a ave dos chefes, a ave da dança que voa alto e flutua no vento em vez de lutar contra ele. No entanto, as fragatas precisam seguir os cardumes de peixes dos quais se alimentam. Se os peixes se forem para sempre, será que a cauda bifurcada da fragata continuará a cortar os céus de Kiribati?
Claire Anterea, uma das plantadoras de mangue que trabalha no programa de adaptação climática do governo, diz que o povo precisa reconhecer seu papel na mudança climática, por menor que seja, e tentar compensá-la. “Contribuímos menos, mas ainda assim contribuímos”, conta ela. “Comemos muita comida ocidental. Gostamos de macarrão, de Ox & Palm [carne enlatada]. E essa comida é feita em fábricas que produzem gases. Todos estamos contribuindo porque queremos viver à moda ocidental.”
Claire acabou de construir uma casa tradicional, dotada de painel solar para fornecer energia. “Não posso falar em justiça climática no exterior se eu mesma não agir direito”, reconhece. Ela acredita que mesmo pequenas ações têm efeito multiplicador. “Se trabalharmos juntos – todos os países do Pacífico –, poderemos manter nossas ilhas e permanecer aqui.”
Em minha última noite em Tarawa, quero fazer alguma coisa para demonstrar solidariedade com meus vizinhos de Kiribati. Afinal, também venho do Oceano Pacífico – embora as ilhas montanhosas da Nova Zelândia não estejam enfrentando nada parecido com a ameaça à existência desses atóis, onde boa parte da terra firme agora se encontra a apenas 1 metro do nível do mar. Mas o “sangue azul da Oceania”, como o poeta de Kiribati Teweiariki Taero chama o Pacífico, nos une como uma família.
Estamos sem energia elétrica, um problema nada raro nas ilhas. Por isso, minhas amigas plantadoras de mangue – Vasiti Tebamare e Tinaai Teaua, donas de um spa no vilarejo de Temwaiku – sugerem que levemos a comida até a pista do aeroporto. É uma espécie de tradição, em noites tão escaldantes que nenhum ventilador alivia, as famílias abrirem esteiras na pista pouco usada e fazerem um piquenique. Com a brisa que vem do mar, ali sempre é um lugar fresco.
Levamos peixe grelhado, arroz e fatias fritas de fruta-pão para comer e moimoto – coco-verde – para beber. O aeroporto, cintilante de luzes de lanternas, banha-se no suave murmúrio das conversas. Comemos, falamos bastante, depois nos deitamos para olhar as estrelas no fulgurante céu noturno – a “barriga da enguia”, como os I-Kiribatis chamam a Via Láctea.
Gostaria de saber o nome das constelações como os antigos navegadores, conhecê-las tão intimamente como se fossem da família. Eles aprenderam isso olhando o céu como quem olha o teto de um templo, dividido em uma grade formada pelas vigas e linhas do colmo. As estrelas apareciam em um quadrante, viajavam pelo teto e se punham no quadrante oposto.
Os mestres navegadores conheciam mais de 150 estrelas. Em qualquer parte do oceano, sabiam onde estavam. Os I-Kiribatis podem viver em ilhas pequenas, mas não há nada de diminuto na noção que têm de seu lugar no mundo.